domingo, 28 de junho de 2015

APOCALIPSE 11 E 13 "OS 1260 DIAS"

X - COMPREENDENDO OS "1.260 DIAS" EM APOCALIPSE 11-13

João usa 3 símbolos de tempo ("dias", "meses", "tempos" ) em Apocalipse 11-13 para designar o período quando seria pisada a cidade santa, o tempo das duas testemunhas, da mulher no deserto, e do domínio da besta. Usa a frase "42 meses", "1.260 dias" e "um tempo, e tempos e metade de um tempo", como termos sinônimos que servem como elos vitais entre Apocalipse 11, 12 e 13. É útil fazer uma comparação de dois versículos paralelos de Apocalipse 12:

APOCALIPSE 12:6
APOCALIPSE 12:14
"A mulher, porém, fugiu para o deserto, onde lhe havia Deus preparado lugar para que nele a sustentem durante mil duzentos e sessenta dias".
"E foram dadas à mulher as duas asas da grande águia, para que voasse até ao deserto, ao seu lugar, aí onde é sustentada durante um tempo, tempos e metade de um tempo".

Apocalipse 12:6 e 14 descrevem ao que parece a mesma mulher e o mesmo tempo de perseguição, com símbolos ligeiramente diferentes. Estas diferenças estilísticas são significativas, porque proporcionam a oportunidade de combinar uma gama mais ampla de modelos do Antigo Testamento, o que não só enriquece o significado teológico da igreja cristã, mas também proclama a continuidade da fidelidade de Deus a seu povo do novo pacto. Da mesma maneira que Jeová tinha "levado" a Israel sobre "asas de águia" do Egito e os trouxe a ele (Êxo. 19:4), assim Deus dá à sua igreja "as duas asas da grande águia" para voar a um lugar seguro (Apoc. 12:14). O fato de que o símbolo de tempo de "1.260 dias" e seus equivalentes nos são dados 7 vezes (2 em Dan. e 5 no Apoc.) indica que é um período de importância crucial.

A pergunta é a seguinte: De onde vem este símbolo apocalíptico? A frase "um tempo, e tempos e metade de um tempo" em Apocalipse 12:14 é tomada diretamente de Daniel 7:25 e 12:7, como geralmente se reconhece. Mas poucos comentadores conectam Apocalipse 12 à sua raiz principal em Daniel 7. Porém, aqui jaz a chave secreta para descobrir os 3 ½ tempos proféticos em sua relação com o "chifre pequeno" da quarta besta de Daniel.

O Erro de Separar o Símbolo de Tempo de seu Contexto

Alguns expositores apelam à tradição judia que usa o termo "3 anos e meio" como um modismo para um "longo tempo" indefinido ou para "muitos dias".1 O termo aparece ali para expressar "a metade de um septênio" ou, como dizem outros, "a metade de uma década" sem nenhuma outra precisão. As passagens do Lucas 4:25 e Tiago 5:17 são interessantes, porque neles a frase "três anos e meio" usa-se para o tempo da seca nos dias de Elias, enquanto que em 1 Reis 18:1 só declara que durou "muitos dias" e que a seca terminaria "no terceiro ano".

Esta designação de tempo pode significar um mínimo de 14 ou 18 meses, segundo a tradição rabínica,2 ou possivelmente 3 anos. O fato de que tanto Jesus (Luc. 4:25) como Tiago (5:17) falam deste período como "três anos e meio" poderia ser uma adaptação do modismo popular em seu tempo. Entretanto, um documento rabínico dá a leitura de "três anos e meio".3 Enquanto que se pode reconhecer a tensão dentro do conteúdo do Antigo Testamento e do Novo Testamento com respeito ao tempo de prova real da seca profetizada por Elias, tudo isto se distingue da designação do tempo nas profecias de Daniel e Apocalipse. Aqui o princípio guiador não é o modismo, a não ser o contexto imediato e o contexto remoto da profecia.

O livro de Daniel proporciona a fonte e a localização dos "3 ½ tempos" dentro da história das salvação. O falhar em situar os 3 ½ tempos proféticos adequadamente dentro do tempo contínuo de Daniel 7, ignora a convocação ordenada deste período de tempo na história. Como Daniel 7 aplica a quarta besta simbólica ao quarto império mundial, ou Roma Imperial, o "chifre pequeno" que cresceu desta besta não pode representar ao rei selêucida Antíoco IV que perseguiu os judeus e profanou o templo desde dezembro do ano 167 a.C. até dezembro do 164 a.C. (1 Macabeus 1:41-61; 2 Mac. 10:5). Induz a engano afirmar que o tempo simbólico de Daniel de 3 ½ tempos "levantou-se durante a abominação do Antíoco Epifanes" conforme afirma Ezell,4 já que a profanação do templo durou exatamente 3 anos (2 Mac. 10:5) e não "quase exatamente 3 ½ anos". Semelhantes conjeturas com respeito à frase de tempo que Daniel emprega falham porque separam o símbolo do tempo de seu marco original dentro de Daniel 7.

Aplicações Futuristas dos 1.260 dias

G. Ch. Aalders, um erudito holandês do Antigo Testamento, estava convencido de que os 3 ½ tempos de Daniel 7 devem conectar-se com o reinado do anticristo, que ele viu levantar-se da quarta besta como o Império Romano. Rechaçou os "esforços" de alguns que aplicavam a designação de anticristo ao papado ou à lei romana (como formas de continuação do Império Romano) como "cerâmica sem valor".5 Aalders também considerou intranscendente esperar algum "reaparecimento reavivado" do Império Romano no tempo do fim. O anticristo, afirmou Aalders, obterá um desdobramento espantoso de poder político no mundo cultural do futuro. Tratará de assumir a soberania do mundo da própria mão de Deus ao mudar os "tempos e a lei" (Dan. 7:25; cf. 2:21). Isto significa que o anticristo tem o propósito de proscrever todos os fundamentos cristãos e "tirar todo elemento religioso" do mundo cultural, "no espírito que motivou a Revolução Francesa" ou os governos comunistas ateus.6 Dessa maneira Aalders identificou o anticristo com algum governante político ateu do futuro.

Com respeito ao "tempo, e tempos e meio tempo" de Daniel 7:25, Aalders interpretou esta frase para dizer que a opressão dos crentes cristãos ocorrerá em 3 etapas: (1) Primeiro um período de perseguição em aumento; (2) depois, um período de opressão mais longo e intensificado; e (3) finalmente, um breve período de perseguição que será abreviado abruptamente por Deus por causa de seus escolhidos (referindo-se ao Mat. 24:22). Projetou esses "tempos" do anticristo, que não são exatos, ao futuro distante, atribuindo um intervalo surpreendente de tempo de mais de 1.500 anos (da queda de Roma até nossos dias) na era da igreja. Por outro lado, reconheceu que o futuro reino do anticristo está ampliado adicionalmente por Paulo em 2 Tessalonicenses 2:4 e também em Apocalipse 13:5 e 6.7

O erudito norte-americano do Antigo Testamento, Edward J. Young, explicou Daniel 7 em uma forma similar a de Aalders. Resumiu dizendo: "Dessa forma, em um quadro notável, dá-se todo o curso da história da aparição do Império Romano histórico até o fim do governo humano".8 Interpretou os "10 chifres" da quarta besta de Daniel 7 como os reinos (10 é "o número da totalidade") que "surgem historicamente do antigo Império Romano... A Europa moderna pode, em um sentido muito legítimo, ter surgido de Roma".9 Mas Young projeta o anticristo (o décimo primeiro chifre) ao futuro indefinido, quando "tratará de desgastar (consumir, afligir, humilhar) os santos do Altíssimo". "Essa tirania durará um período definido, um tempo e tempos e a metade de um tempo".10

Young rechaça a crença dispensacionalista de que os 3 ½ anos ou 1.260 dias devem equiparar-se com a última meia semana das 70 semanas de Daniel, o período da grande tribulação. Declara que a frase de tempo do Daniel "é em si mesmo uma expressão cronológica indefinida".11 Conclui dizendo: "Este período, 'um tempo, e tempos, e a metade de um tempo', aparentemente representa um período de prova e juízo que será abreviado por causa dos escolhidos de Deus (cf. Mat. 24:22)".12 Tanto Young como Aalders projetam o anticristo exclusivamente na fase final do futuro da era da igreja.

É curioso observar que o reformador João Calvino em suas populares Conferencias sobre Daniel de 1561,13 sugeriu que essa frase de tempo do Daniel 7:25 indicava 3 fases: Primeiro, um período de um tempo "algo assim como 10 anos"; depois tempos, "algo semelhante a 50 ou 100 anos", e finalmente "meio tempo", como uma indicação de que Deus coloca um limite repentino à grande aflição. Refere-se a Jesus, que havia predito um encurtamento da tribulação em Mateus 24:22. Entretanto, Calvino aplicou todos os chifres da besta do Daniel 7 a vários imperadores do Império Romano (como Júlio César, Nero e Trajano).

Em seu Commentary on Daniel, o dispensacionalista Leão J. Wood declara que "o fato de que esta besta tinha 10 chifres significa que antes desta indicação deve reconhecer-se a existência de um grande intervalo de tempo".14 Wood apóia este intervalo de tempo tão tremendo sobre a hipótese errônea de que os 10 chifres ("10 reis contemporâneos") devem ser parte de um Império Romano reavivado do futuro, "pode ser uma confederação de estados europeus", com Roma como sua cidade principal.15 Só então, diz Wood, o décimo primeiro chifre, como "a falsificação de Satanás do soberano mundial", começará a perseguir os judeus (que são os santos de Deus) por 3 ½ anos literais,16 período de tribulação que é idêntico à metade do período de 7 anos da tribulação final de Daniel 9:26 e 27. Esta opinião apenas repete a que aparece na New Scofield Reference Bible [A Nova Bíblia de referência Scofield], páginas 909 e 1362. O ponto de vista dispensacionalista está determinado por um literalismo estrito de todos os símbolos de tempo proféticos a pesar do fato de que estes símbolos estão unidos a imagens simbólicas (Dan. 7; Apoc. 11-13). Também, a teoria do intervalo do futurismo está em conflito com o contínuo-histórico descrito em Daniel 2 e 7.


Abrangem os 1.260 dias Toda a Era Cristã?

Nas últimas décadas, ganhou apoio uma nova interpretação dos "1.260 dias". Afirma que por meio desta frase de tempo, João pretendeu "representar a 'experiência do deserto espiritual' da igreja durante o período entre a ressurreição e a volta de Cristo".17 Este erudito batista sustenta que João escolheu dar uma forma nova à designação do tempo de Daniel como 42 meses e 1.260 dias para simbolizar o tempo que os filhos de Israel estiveram no deserto durante 42 anos. "Os novos filhos de Israel experimentarão sua peregrinação como peregrinos por um período pitorescamente simbolizado como 42 meses".18 Ele se refere a Apocalipse 12:6 e 14.

Mas o Antigo Testamento nunca menciona 42 anos para a experiência de Israel no deserto; só fala de 40 anos. Lemos que desde o segundo mês de sua partida do Egito, "comeram os filhos de Israel maná quarenta anos, até que chegaram a terra habitada; maná comeram até que chegaram aos limites da terra de Canaã" (Êxo. 16:35; cf. Deut. 2:7; 8:2-4; 29:5; Nee. 9:21; Sal. 95:10; At. 7:36). Em nenhum lugar da Bíblia se estiram estes 40 anos a 42. Além disso, Daniel e Apocalipse não conectam os 3 ½ tempos proféticos com a idade messiânica ou com a era da igreja como tal, e sim somente com o reinado de terror do anticristo (Dan. 7:24, 25; Apoc. 13:5-8), conexão exegética que foi reconhecida pelo expositor batista George R. Beasley-Murray. Raciocina que as frases de tempo em Apocalipse 12 não devem ser separadas de seu contexto em Apocalipse 13, porque...
"...faz violência à intenção de João. Os três anos e meio são o tempo da cólera do anticristo (13:5), e portanto da exposição da igreja a seus intentos de esmagar sua existência (11:1 e seguintes; 3-13). Isto não caracteriza o período da igreja- entre a ascensão e a parousia de Cristo".19

Como se mostrou antes, o apóstolo Paulo em 2 Tessalonicenses 2 colocou o anticristo profetizado no futuro, de fato, depois do desaparecimento do Império Romano (ver o cap. VII desta obra). Por conseguinte, os 3 ½ anos não podem aplicar-se às perseguições de alguns imperadores romanos como Nero, Domiciano, Décio e Diocleciano. Os tempos daniélicos de perseguição estão entrelaçados exclusivamente com o reinado do anticristo (Dan. 7:24, 25). E enquanto que os perseguidores históricos do povo de Deus, como Nabucodonosor, Antíoco IV, Nero e outros, podem ser considerados como representantes dos tempos opressores dos gentios, podem considerar-se só como protótipos ou precursores do anticristo predito na profecia.

O que se denomina "tempos dos gentios" (em Luc. 21:24) pode ser considerado como se abrangesse todo o período da supremacia hostil sobre o povo do pacto de Deus que termina só com a libertação por ocasião da segunda vinda de Cristo. Mas os 3 ½ anos do Daniel ou os 1.260 dias de João constituem uma parte restringida desses tempos gerais de sujeição política, o período específico da supremacia do anticristo bíblico sobre os santos de Deus. E porque o reinado do anticristo não se estende sobre toda a era cristã, de igual maneira os 1.260 dias não compreendem toda a era cristã.

Os "3 ½ tempos" Dentro de seu Contexto de Daniel 7

Em Daniel 7 os 3 ½ tempos estão conectados exclusivamente ao "chifre pequeno", quer dizer, o décimo primeiro chifre que surgiu gradualmente da quarta besta. O Apocalipse continua aplicando os 3 ½ tempos proféticos e seus símbolos equivalentes de "42 meses" e "1.260 dias" ao anticristo, representado como a besta que sobe do mar de Apocalipse 13:1-8.

Durante a idade apostólica, o anticristo não se desenvolveu plenamente como declarou o apóstolo Paulo em 2 Tessalonicenses 2. Até o ancião apóstolo João declarou que o anticristo profetizado ainda estava no futuro (em 1 João 2:18). Por outro lado, advertiram a igreja a respeito da certeza de sua vinda durante a era da igreja (At. 20:29, 30; 2 Tes. 2:3-8; Apoc. 13). É notável que o pai da igreja, Tertuliano (por volta de 200 d.C.) ensinou que o anticristo predito (de Daniel) não era o Império Romano mas sim se levantaria depois do desaparecimento de Roma pagã e depois se sentaria na igreja. Tertuliano interpretou 2 Tessalonicenses 2 afirmando que a existência presente do Império Romano retardava o surgimento do anticristo. Escreveu com respeito ao que "o freia" (2 Tes. 2:7, 8, NBE): "Qual é o obstáculo aqui, a não ser o Estado romano, a queda do qual, ao ser dividido no reino introduzirá ao anticristo sobre (ruínas próprias)?"20 Também o respeitado comentário de Daniel por Jerônimo (347-420 D.C.) ratificou a posição corrente na igreja cristã, de que em Daniel 7 se descreve o anticristo como o décimo primeiro rei, que se levantará só quando o Império Romano seja destruído e 10 reinos se repartirem entre eles o mundo romano.21
Inclusive Agostinho no ano 413 recomendou o comentário "erudito" sobre Daniel de Jerônimo para a compreensão de Daniel 7.22 Tertuliano e Jerônimo chegaram a esta interpretação só porque foram a Daniel 7 como a raiz principal de todas as profecias do anticristo. O método fundamental de decifrar os símbolos apocalípticos do Apocalipse, rastreando sua origem nas profecias esboçadas no Daniel, deve ser também respeitado para decifrar os símbolos de tempo de Apocalipse 11 a 13.

Se se consultar Daniel 7 como a raiz principal do Apocalipse, saberemos que o "chifre" anticristão surgiria para perseguir os santos de Deus por 3 ½ tempos só depois que os "10 chifres" dividissem o Império Romano do Ocidente. Esta divisão histórica se levou a cabo durante 100 anos, até que no ano 476 o último imperador do Império Romano Ocidental, Rômulo Augústulo, foi destronado. Pelo esboço apocalíptico de Paulo em 2 Tessalonicenses 2 sabemos que não deve dar-se por sentado nenhum intervalo interminável de tempo para que ocorresse o livre desenvolvimento do anticristo e seu reino (ver seu estudo no cap. VII desta obra, a seção "O momento histórico exato do anticristo segundo Paulo").

A besta simbólica que sobe do mar de Apocalipse 13 incorpora em si mesmo as 4 bestas do Daniel 7. Além disso, os nomes de blasfêmia sobre suas cabeças (Apoc. 13:1) correspondem-se com as marcas do chifre pequeno de Daniel 7. Também os tempos de sua autoridade, "quarenta e dois meses" (Apoc. 13:5), correspondem-se com os 3 ½ tempos do chifre pequeno de Daniel (Dan. 7:25), símbolo de tempo profético que desta maneira está unido ao anticristo que se levantaria no cenário mundial quando Roma Imperial chegasse a seu fim no Ocidente, quer dizer, depois do ano 476 d.C. Entretanto, o anticristo ainda representa o Império Romano e seu espírito de perseguição. Ronald S. Wallace, um erudito bíblico em Escócia, reconheceu que, se a quarta besta de Daniel 7 representa o Império Romano, "o chifre pequeno se refere então a algum grande perseguidor anticristão da igreja verdadeira que se levanta na era cristã e dentro da civilização criada pelo Império Romano. Isto encaixaria primorosamente com a interpretação dada pelo apóstolo Paulo e o livro do Apocalipse (cf. Apoc. 13)".23

O Surgimento da Igreja-Estado Durante o Império Romano

Durante os primeiros 300 anos de cristianismo, os cristãos foram proscritos porque os imperadores romanos em seu ofício como Pontifex Maximus (supremo pontífice) protegiam a religião do Estado por causa da unidade civil na sociedade romana. "Calcula-se que três milhões de cristãos pereceram durante os três primeiros séculos da era cristã".24

Essas perseguições chegaram em duas grandes etapas: sob Décio e sob Diocleciano. Após terminar a última grande perseguição (303-312), repentinamente o imperador Constantino inverteu toda a situação com seu famoso Decreto Imperial do ano 313, que permitia que a religião cristã existisse legalmente lado a lado com a religião tradicional. No ano 321 impôs sobre todos os povos a observância civil do domingo como o Dies Solis ("dia do Sol"). Como patrocinador da igreja (ele mesmo se chamou "o bispo dos bispos"), Constantino convocou o primeiro concílio ecumênico na Nicéia no ano 325, e depois introduziu a prática de assinar-se os artigos de um credo escrito que estipulava castigos se não o aceitava. É a primeira ocorrência de um castigo da autoridade civil pelo cargo de heresia. Este imperador romano elevou assim à hierarquia católica e sua ortodoxia exclusiva como a religião do Estado do império Romano. Todas as ofensas contra a igreja agora se consideravam como delitos contra o Estado.
O historiador Edward Gibbon declarou que Constantino "sentou a cristandade sobre o trono do mundo romano".25 Do tempo de Constantino, a igreja chegou a ser a Igreja-Estado. Declarou-se Roma a corte suprema de justiça dentro da igreja para honrar a memória do apóstolo Pedro (cânon 4). O imperador também enriqueceu à igreja ao doar-lhe todos os templos pagãos e suas grandes propriedades, assim como as propriedades dos hereges. Em breve a igreja era proprietária de uma décima parte de todos os bens raízes no Império Romano.

O resultado da aliança da Igreja e o Estado foi uma igreja cada vez mais secularizada e uma sociedade nominalmente cristã. Segundo o historiador eclesiástico Ph. Schaff, "isto produziu o conflito entre a luz e as trevas, a verdade e a falsidade, Cristo e o anticristo, no próprio seio da cristandade".26 O tempo de Constantino foi testemunha do começo da luta interminável na Europa entre a hierarquia da Igreja e o Estado, cada um tratando de subjugar e dominar o outro. Esta rivalidade "seguiu durante todo o conflito medieval entre o imperador e o Papa, entre o episcopado imperial e hierárquico, e se repete em forma modificada em cada igreja protestante estabelecida".27

Os imperadores "cristãos" romanos convocaram os concílios gerais da igreja, impuseram os novos credos por meio da lei sobre todos os cidadãos no império, protegeram a "ortodoxia" e castigaram a "heresia" com o braço do poder secular, o que foi considerado por alguns (como Eusébio de Cesaréia) como a restauração da teocracia davídica sobre terreno cristão. Mas outros, como o professor francês de direito, Jacques Ellul, consideram a legislação e a imposição política da unidade dogmática da igreja pelos imperadores cristãos como o começo da subversão do cristianismo e a forma principal de anticristianismo.28 A imposição política das leis humanas para estabelecer a igreja ou o reino espiritual de Cristo revela um espírito que está em conflito fundamental com o espírito de Cristo (ver João 18:36).

O lado sombrio desta aliança histórica da Igreja e o Estado dos dias de Constantino foi constituído pela perseguição dos "hereges", porque suas separações da fé da Igreja-Estado (o catolicismo trinitário) não se consideravam simplesmente como enganos religiosos, mas sim como delitos contra o Estado (cristão). Esses hereges foram castigados com o desterro, confisco de seus bens e, dos dias do imperador Teodósio (380), inclusive com a morte.29 Declara Schaff: "Por conseguinte, desde Teodósio se pode datar a teoria da perseguição de hereges pela Igreja-Estado, e sua inclusão na legislação".30 Em 385 o imperador "cristão" Máximo ordenou a execução do bispo espanhol Prisciliano, e de 5 crentes de sua seita parecida com a dos maniqueus, na cidade do Treveris.31

Até Agostinho chegou a convencer-se depois do ano 400 que os hereges que persistissem deviam ser castigados por seus enganos religiosos. Inclusive apelou às palavras de Jesus em uma parábola que dizem: "Força-os a entrar" (Luc. 14:23). Em sua obra clássica, A cidade de Deus, Agostinho expõe o ideal católico de uma igreja universal, ou sociedade dos fiéis, que domine a sociedade universal dos infiéis. Quando a cidade de Roma foi capturada e saqueada pelo rei godo Alarico em 410, sobreviveu a igreja como o corpo dos fiéis. Agostinho afirmou que o milênio de Apocalipse 20 se estava cumprindo agora no reinado da igreja, cujos bispos devem julgar a outros, em nome de Cristo (20:9), o que proporcionou a base teórica para o Igreja-Estado do papado medieval.32 A hierarquia da igreja chegou a ser cada vez mais romana depois que Constantino transladou a capital de Roma a Constantinopla em 330. "O bispo de Roma, no assento dos césares, era agora o homem de maior influencia no Ocidente, e logo se viu constrangido a chegar a ser a cabeça tanto política como espiritual".33

Leão I ("o Grande"; 440-461) foi o primeiro papa que publicamente sustentou um papado universal. Estabeleceu sua primazia no direito divino, o direito de estar na sede apostólica em Roma. Para ele, a cristandade e o domínio universal da igreja romana eram coisas idênticas.34 Schaff o considera como "o primeiro papa no sentido próprio da palavra", isto é, com respeito a suas exigências de supremacia.35

Durante o concílio de Calcedônia, em 451, leu-se a carta dogmática do papa Leão I, e os bispos (só estiveram presentes bispos da Europa Oriental) exclamaram: "Esta é a fé dos pais... e dos apóstolos! Desta maneira Pedro falou por meio de Leão!"36
Desta exclamação histórica, Leão I e outros papas posteriores derivaram um direito a sua autoridade dogmática sobre todos os cristãos. Mas os mesmos pais do concílio atribuíram ao patriarca de Constantinopla uma autoridade igual para exercer na parte oriental do império, como a que o papa possuía no Ocidente. "O papa Leão I confirmou a confissão doutrinal do concílio, mas protestou contra o cânon 28 que colocava o patriarca de Constantinopla em um pé de igualdade com ele".37 O papa Leão enfatizou cada vez mais que os papas eram os sucessores do apóstolo Pedro e dessa maneira possuíam a sedes apostólica (sede apostólica), para estabelecer sua supremacia eclesiástica sobre o patriarca de Constantinopla. Daí em diante, cada papa alegou ser o vigário de Pedro e, portanto, ao mesmo tempo também o vigário de Cristo para toda a igreja.

O papa Leão I foi o primeiro papa que pediu às autoridades seculares que suprimissem pela força todas as igrejas cristãs heréticas na cidade de Roma. Embora toda a igreja sustentou a autoridade dos papas, este pedido só pôde levar-se a cabo em algumas partes da Itália. A igreja oriental rechaçou a reclamação de Leão I à primazia na igreja, e ainda hoje rechaça a primazia papal.

Da queda do Império Ocidental em 476, os bispos de Roma se apropriaram da função do imperador do ocidente como Pontifex Maximus, sacerdote e governante temporário, com os bispos como senadores e dirigentes do exército. O renomado historiador eclesiástico alemão, Adolfo von Harnack viu a igreja romana como "a continuação real" do Império Ocidental. Henri Pirenne, o eminente historiador belga, escreveu: "Em resumo, não foi porque era cristã, mas sim porque era romana que a igreja adquiriu e manteve durante séculos seu domínio sobre a sociedade".38

O papa Gelásio I (492-496) desenvolveu o princípio papal um passo a mais ao declarar em 494 que o imperador estava sujeito ao papa e tinha a obrigação de obedecer à disciplina da Igreja Católica. O bispo de Roma era a "autoridade suprema". Este papa começou a defender a política de "não interferência" entre a Igreja e o Estado. Seu propósito foi fazer do papa um governante religioso-político independente, com direito a mandar sobre os soberanos civis.

O Reconhecimento da Primazia Papal por Parte de Justiniano

A política do Justiniano I, imperador do Império Romano Oriental (527-565 ) procurou reviver um Império Romano cristão governado pelo imperador de Bizâncio (Constantinopla). Como chefe verdadeiro da igreja cristã, Justiniano promulgou decretos com manifestos obrigatórios, inclusive em teologia. Seu principal problema doutrinal foi o conflito entre o ponto de vista ortodoxo do concílio da Calcedônia (451), a opinião de que em Cristo coexistem a natureza humana e a divina, e o ensino monofisista que enfatizava a natureza divina de Cristo. Esta última opinião era a que preferia sua esposa, a imperatriz Teodora, que era muito popular no Oriente. Por outro lado, o arianismo que rechaçava a deidade eterna de Cristo era a crença cristã comum entre os povos germânicos (exceto entre os francos) que povoaram o Império Romano ocidental, incluindo o norte da África.

Justiniano decidiu restaurar a unidade política e religiosa em todo o território do antigo Império Romano. Procurou a cooperação do papa para estabelecer a unidade religiosa no império bizantino. Primeiro escreveu sua carta famosa o papa João II, em 533, em que solicitava o apoio do papa para sua decisão imperial contra a heresia dos nestorianos. Em sua carta imperial o papa declarava o seguinte:

"Portanto, esforçamo-nos para unir a todos os sacerdotes do Oriente e submetê-los à sede de Sua Santidade... Porque não toleramos que nada que se refira ao estado da Igreja... seja discutido sem que antes se traga ao conhecimento de Sua Santidade, porque vós sois a cabeça de todas as santas igrejas, e porque nos esforçaremos em tudo o que possamos... para acrescentar a honra e a autoridade de vossa sede".39

Depois o imperador solicitou uma resposta do papa que condenasse aos nestorianos como ele o tinha decretado. Froom faz a seguinte avaliação deste pedido. Diz que "isto revela a compreensão plena que tinha o bispo de Roma do reconhecimento imperial da primazia da sede de Roma".40 A admissão da primazia dos papas se referia à sua autoridade e a que era "o corretor de hereges" (na carta do Justiniano ao arcebispo Epifânio, no ano 533). Entretanto, entranhava muito mais. Em sua carta imperial o papa João II, o imperador tinha reconhecido formalmente a prioridade do bispo de Roma sobre o de Constantinopla, o que foi promulgado só 12 anos mais tarde, no ano 545, no Código Civil do Justiniano.41 Froom faz este resumo:
"Desta maneira, não só codificou Justiniano as leis religiosas de seus predecessores, mas também designou especificamente o bispo de Roma como cabeça da igreja e corretor de hereges, e fez que a lei canônica da igreja até o ano 451 formasse parte da lei civil do império, consumando assim a união da Igreja e o Estado".42

O reconhecimento imperial da supremacia eclesiástica do papa, codificada no ano 545, foi posta em tela de juízo pelo patriarca de Constantinopla, que assumiu o título de "Bispo universal" em 587. Enquanto que o Código Civil do Justiniano, com suas novas leis ou novellae (534-545), pode tomar-se como o começo do poder legalizado do papado sobre toda a igreja (como está em Novella 131), nunca ficou em vigência no Império Romano do Oriente. Houve uma vasta brecha entre a lei e a prática! A autoridade eclesiástica dos papas se limitou ao antigo Império Ocidental. Além disso, o Código Civil ainda reservava o domínio de toda a igreja não para o papa, e sim para o imperador!, quem era responsável pelo extermínio dos hereges (Novella 132) assim como da manutenção da fé e disciplina de toda a igreja (Novella 6).

Em 606, o imperador Focas resolveu a disputa por meio de seu decreto imperial no qual afirmava que o bispo de Roma era a cabeça apostólica da cristandade. Mas mesmo assim, a supremacia eclesiástica do papado não se fez efetiva na igreja universal. O decreto de Focas foi um intento infrutífero para pôr em vigor a lei de Justiniano (Novella 131).
A ineficácia prática do reconhecimento legal de Justiniano da primazia papal na igreja cristã não se deveu fundamentalmente a alguns reis cristãos arianos, e sim ao próprio imperador Justiniano e a seu governo autocrático. O historiador eclesiástico italiano Paolo Brezzi descreveu assim a obstrução imperial às exigências da primazia papal:

"A subordinação do Papa a Bizâncio permaneceu como uma realidade, até depois de aceder ao cargo eclesiástico mais elevado, o que implicava obrigações e laços que tinham o efeito de obstruir por completo a função papal... É certo que quanto ao que se refere aos bizantinos, a cabeça verdadeira e única da sociedade ainda era o imperador, de quem se buscavam todas as soluções finais, incluídas as que tinham que ver com a religião".43

Só quando o rei dos francos, Pepino, doou Roma e partes da Itália à "sede sagrada do bem-aventurado Pedro" em 756, o papado ficou liberado do jugo do governo e controle bizantinos. Por conseguinte, a metade do século VIII assinala o começo da era do poder temporário do papado. Daí em adiante o papado começou a lutar por conseguir a realização de outro princípio papal: o domínio do governo papal sobre todos os poderes do Estado. Este objetivo se realizaria só com o papa Gregório VII (1073-1085) e seus sucessores. Depois começaram os séculos da Inquisição, de torturas violentas e perseguição para todos os dissidentes.
Do lento desenvolvimento do papado é evidente que "o crescimento do poder papal demonstra que este foi um processo gradual que abrangeu muitos séculos... e que continuou desde aproximadamente o ano 100 até 756"." O Comentário bíblico adventista extrai esta conclusão significativa: "Fica pois em claro que não se podem dar datas que assinalem uma transição precisa entre a insignificância e a supremacia ou entre a supremacia e a relativa debilidade".45 Isto denota que só se podem apresentar datas ou momentos cruciais aproximados para o surgimento e a decadência da primazia papal dentro da igreja e da supremacia papal sobre o Estado.

Os intérpretes historicistas escolheram diferentes anos como sinalizadores do surgimento do poder papal, tais como 396, 455, 533, 538, 606 e 756.46 O Comentário bíblico adventista conclui dizendo: "Entretanto, pelo ano 538 o papado estava completamente formado, e operava em todos seus aspectos essenciais, e em 1798 – 1.260 anos mais tarde – tinha perdido virtualmente todo o poder que tinha acumulado durante séculos".47

As Caracterizações Bíblicas dos 3 ½ Tempos

Para compreender a intenção divina deste período de tempo simbólico em Daniel e no Apocalipse, devemos considerar todas as referências bíblicas. É obvio, o símbolo de tempo profético deve interpretar-se de acordo com o contexto bíblico. A frase relativa ao tempo está conectado com a igreja perseguida e com o perseguidor dos santos. Ao determinar a qualidade teológica dos 1.260 dias ou 3 ½ tempos, precisamos reconhecer que Daniel caracteriza este período como o tempo de opressão ou de "quebrantamento" dos santos (Dan. 7:25; 12:7).

O Apocalipse de João explica adicionalmente a frase de tempo do Daniel. Será um tempo de pisar "a cidade santa quarenta e dois meses" (Apoc. 11:2), e adiciona que as testemunhas de Cristo perseverarão em testificar por 1.260 dias (Apoc. 11:3). Apocalipse 12 menciona que os santos receberão a proteção divina durante os 1.260 dias ou 3 ½ tempos cheios de tensões (Apoc. 12:6, 14). Apocalipse 13 revela que o "dragão" perseguidor transferirá "seu poder e seu trono e grande autoridade" à besta-anticristo que surge do mar (vs. 1, 2), o que dará como resultado a vanglória da besta que pronunciará "blasfêmias" e atuará com uma atitude arrogante durante 42 meses (v. 5). E como foi dito do chifre pequeno em Daniel 7, assim Apocalipse 13 reitera da besta que sobe do mar: "E foi-lhe permitido fazer guerra aos santos e vencê-los; e deu-se-lhe poder sobre toda tribo, e língua, e nação" (Apoc. 13:7).

Se as perseguições da mulher por parte do dragão representa as do Império Romano (Apoc. 12), então a besta-anticristo seguinte dominará com o mesmo espírito despótico como o que teve Roma pagã sobre os santos de Deus.

Além disso, Apocalipse 13 anuncia que o anticristo receberá uma "ferida mortal" com uma espada, da qual se recuperará em forma inesperada e todo mundo se maravilhará (vs. 3, 10-14). As conseqüências desta recuperação por uma breve "hora" no tempo do fim se revelam em Apocalipse 17, o que requererá nossa atenção especial um pouco mais adiante. Nosso interesse atual é determinar o significado bíblico da "ferida mortal" do anticristo em Apocalipse 13. Este ato que incapacita a besta supõe claramente a conclusão dos 1.260 dias de opressão! Além disso, Apocalipse 13 apresenta tanto o começo como o fim do tempo daniélico da guerra do anticristo contra os santos. O tempo de perseguição começa depois do transpasse da sede de poder e autoridade do Império Romano à cabeça da igreja católica romana, e termina com o castigo da ferida mortal com uma "espada" à Igreja-Estado medieval. (Para a aplicação histórica da "ferida mortal" à besta no Apoc. 13, ver o cap. XXII desta obra.)

A Natureza Simbólica dos 1.260 dias

Enquanto que os intérpretes futuristas e preteristas tomam o elemento tempo em Daniel e no Apocalipse como tempo literal, os intérpretes historicistas da Reforma do século XVI estiveram de acordo em aceitar as referências ao tempo como símbolos de que um dia profético representa um ano. Isto se conhece como o "principio dia-ano". Para nosso propósito atual, limitaremos aos 1.260 dias ou 3 ½ tempos.

Observemos, em primeiro lugar, que estas referências de tempo funcionam como elementos constitutivos nas profecias de longo alcance dos dois livros apocalípticos. Indicam o progresso do tempo histórico durante a era da igreja, e dessa maneira valem, até certo ponto, para identificar a proximidade do segundo advento de Cristo. Como escreveu Thomas R. Birks, um professor que viveu em Cambridge, Inglaterra, e defensor do princípio dia-ano:

"Sem as profecias de tempo nos perguntaríamos se ao mundo não ficam ainda por suportar um ou dois milênios cansativos antes que Cristo apareça para desterrar o pecado e a dor".48

As profecias de longo alcance de Daniel chegam até "o tempo do fim" (Dan. 8:14, 17, 19), e este período de tempo predeterminado designa um período particular no qual devem ter lugar uma quantidade de acontecimentos finais (ver Dan. 11:40-45; 12:1-4). Os períodos de tempo proféticos dos 3 ½ tempos em Daniel 7 e o dos 2.300 dias em Daniel 8 não determinam o fim do tempo e sim o começo do "tempo do fim". Se os 3 ½ tempos não se separam de seu contexto, mas sim se vêem como formando parte de uma descrição simbólica, também possuem uma natureza simbólica. Os 3 ½ tempos formam parte de um personagem simbólico chamado o "chifre pequeno". W. H. Shea o explica assim:

"Os 3 ½ tempos do Daniel 7:25 pertencem originalmente a um corno simbólico, não a uma pessoa (ou pessoas) descrita primariamente como tal. Também se pode estabelecer o mesmo ponto a respeito dos contextos simbólicos dos períodos de tempo mencionados no Apocalipse. Estes contextos simbólicos extremamente complexos sugerem poderosamente que também deveríamos tratar suas unidades de tempo como simbólicas".49

A natureza simbólica dos 3 ½ tempos já está sugerida pela forma pouco comum de contar o tempo: "Um tempo, e tempos e metade de um tempo" (Dan. 7:25; 12:7; Apoc. 12:14). Além disso, se as bestas simbólicas de Daniel 7 representam impérios que duram muito tempo, cada um abrangendo séculos, "o mais natural é que os tempos mencionados estão também apresentados em escala com uma unidade pequena de tempo representando um tempo mais extenso".50

Ampliação Adicional dos 3 ½ Tempos em Daniel e Apocalipse

Os 3 ½ tempos do chifre pequeno de Daniel 7 são colocados novamente na história da salvação por parte do anjo interpretador de Daniel 11 e 12.

Não se pode separar Daniel 12 de Daniel 7-11 porque o anjo do capítulo 12 esclarece além disso a perseguição dos santos descrita em Daniel 11:32-35 e 7:25. Conecta os 3 ½ tempos de perseguição em Daniel 12:7 com a perseguição dos santos em Daniel 11:32-35, o que proporciona a nova informação de que os 3 ½ tempos ocorrerão antes do "tempo do fim" (ver Dan. 11:32-35), e portanto não pertencem nem ao predeterminado tempo do fim nem depois do tempo do fim.51


TEMPOS CORRESPONDENTES DE PERSEGUIÇÃO
Daniel 7:25
"Proferirá palavras contra o Altíssimo, magoará os santos do Altíssimo e cuidará em mudar os tempos e a lei; e os santos lhe serão entregues nas mãos, por um tempo, dois tempos e metade de um tempo"
Daniel 11:32-35
"Aos violadores da aliança, ele, com lisonjas, perverterá, mas o povo que conhece ao seu Deus se tornará forte e ativo" (v. 32) 
" Os sábios entre o povo ensinarão a muitos; todavia, cairão pela espada e pelo fogo, pelo cativeiro e pelo roubo, por algum tempo" (v. 33).
"Alguns dos sábios cairão para serem provados, purificados e embranquecidos, até ao tempo do fim, porque se dará ainda no tempo determinado". (v. 35).
Daniel 12:7-10
"Seria depois de um tempo, dois tempos e metade de um tempo" (v. 7).
"E, quando se acabar a destruição do poder do povo santo, estas coisas todas se cumprirão" (v. 7).
"Muitos serão purifica-dos, embranquecidos e provados; mas os perversos procederão perversamente, e nenhum deles entenderá, mas os sábios entenderão" (v. 10).
"estas palavras estão encerradas e seladas até ao tempo do fim" (v. 9).

Os 3 ½ tempos do Daniel da perseguição dos santos (Dan. 7:25; 12:7) João os aplica no Apocalipse à era cristã, depois da crucificação e exaltação de Cristo (ver Apoc. 12:13, 14). O Apocalipse então iguala os "3 ½ tempos" do Daniel com os "1.260 dias" (Apoc. 12:6), durante os quais a mulher simbólica deve esconder-se no deserto. Com respeito a isto, comentou Edward Heppenstall:

"Como o Apocalipse tem o propósito de ser uma continuação das visões de Daniel, o cumprimento do chifre e o poder apóstata em Daniel, e o dragão e a besta no Apocalipse, devem buscar-se na era cristã".52
Se reconhecermos as três fases principais da história da igreja em Apocalipse 12 (vs. 1-5; vs. 6, 14; V. 17) reconheceremos que Apocalipse 12:6 e 14 descrevem o segmento médio da história da igreja, que indica a Idade Média. Estamos completamente de acordo com a avaliação de Shea a respeito de Apocalipse 12:

"É clara a evidência de que esta narração apresenta um movimento histórico contínuo durante a era cristã; portanto, é mais compatível em sua perspectiva com o ponto de vista historicista ou histórico contínuo".53

É geralmente aceito pelos expositores que os 1.260 dias proféticos representam a essência da perseguição dos santos, o que levou a muitos a aplicar os 1.260 dias como uma expressão simbólica para toda a era cristã, durante a qual são perseguidos os santos verdadeiros. Até alguns comentadores adventistas começam a ver mais de um nível de significado dos 1.260 dias: um concernente à qualidade essencial dos dias e outro quanto à quantidade numérica dos dias. Roy Naden declara com respeito aos 1.260 dias proféticos ou 3 ½ tempos :

"De acordo com nossa hermenêutica, supomos que estas cifras têm em primeiro lugar um significado qualitativo para interpretar a visão, e só em segundo lugar uma aplicação quantitativa possível".54

A interpretação "qualitativa" dos 1.260 dias ou 42 meses se determina ao ter em conta a experiência da igreja no deserto como o antítipo da peregrinação de Israel pelo deserto durante 40 anos e os 42 lugares diferentes onde acamparam (segundo Núm. 33). A igreja terá que sofrer penúrias no "deserto" do mundo durante a era da igreja, mas também receberá o "sustento e o amparo de Deus durante toda sua peregrinação terrestre, assim como os 42 acampamentos do Israel, até que entre na terra prometida".55
Embora esta interpretação "qualitativa" da experiência da igreja no deserto seja enriquecedora e tenha algum poder de convicção, deixa sem explicar por que a cifra de 1.260 dias tem também um cumprimento quantitativo na história da igreja. Para compreender esta aplicação, voltamos para estudo do princípio dia-ano.

A Equação Dia-Ano

A lei mosaica introduziu o princípio de que um dia pode representar um ano. O primeiro exemplo está em Levítico 25, que prescreve que o sétimo dia, sábado, ia ser celebrado também como um "ano sabático" para a terra, quer dizer, cada sétimo ano: "Mas no sétimo ano a terra terá seu repouso sabático, um sábado para o Iahweh: não semearás o teu campo nem podarás a tua vinha... Será para a terra um ano de repouso" (Lev. 25:4, 5, BJ). Aqui a lei levítica estende a qualidade do sábado semanal a um ano inteiro. Shea o resume assim:

"Desta maneira, existe uma relação direta entre "dia" e "ano", dado que para ambos se aplicou a mesma terminologia, e o ano sabático posterior foi modelado conforme o dia sabático anterior".56

A lei de Israel do ano sabático introduz assim o princípio dia-ano. O mesmo princípio está reforçado na lei do ano do jubileu: "Contarás sete semanas de anos, sete vezes sete anos, de maneira que os dias das sete semanas de anos te serão quarenta e nove anos" (Lev. 25:8). Esta lei pressupõe que depois de sete semanas de anos sabáticos chegava o ano do jubileu.
De novo o sábado semanal permanece como o modelo para um ano inteiro de descanso e liberdade no ciclo do jubileu. Os anos sabáticos em seus ciclos de sete anos eram proféticos do ano do jubileu. Desta forma o princípio de dia-ano chegou a ser uma predição prática da redenção nos rituais de adoração do Israel.

Na perspectiva profética de Israel se aplicou de formas diferentes o princípio dia-ano. Lemos em Números 14:34: "Segundo o número dos dias em que espiastes a terra, quarenta dias, cada dia representando um ano, levareis sobre vós as vossas iniqüidades quarenta anos e tereis experiência do meu desagrado". Neste caso, dias que já tinham passado (40) usam-se para predizer outros tantos anos de castigo para um Israel rebelde.

Em Ezequiel 4:6, 7 os anos de rebelião que já tinham acontecido estão representados por 40 dias. Em ambos os casos se aplica o mesmo princípio dia-ano, mas em maneiras diferentes. Entretanto, o testemunho essencial do princípio dia-ano está no livro apocalíptico de Daniel. As "setenta semanas" proféticas em Daniel 9:24-27, pelo consenso unânime dos intérpretes judeus e cristãos, designam setenta semanas de anos (ver Dan. 9:24), ou 490 anos reais, o que é igual a 70 anos sabáticos (70 x 7 anos) ou a 10 ciclos de jubileu (10 x 49 anos). Se com a frase "setenta semanas" Daniel pensou em semanas de anos sabáticos, então não se necessita a conversão dia por ano, porque 70 semanas de anos perfazem 490 anos. Só se as "setenta semanas" do Daniel 9:24 se tomam como setenta semanas literais (70 x 7 dias) necessitar-se-ia a aplicação da conversão de dia em ano para dar o resultado de 490 anos reais.

Entretanto, o contexto em Daniel 9 assinala a que compreendamos anos sabáticos, porque o profeta estava refletindo sobre o significado dos 70 anos do cativeiro do povo em Babilônia, como tinha sido profetizado por Jeremias (ver Dan. 9:2). Esses 70 anos se entendiam como anos de castigo porque Israel tinha passado por cima os anos sabáticos para a terra (ver 2 Crôn. 36:21; Dan. 9:10-14). O anjo interpretador prediz uma multiplicação desses anos sabáticos (70 vezes) como o tempo que ia passar antes que o segundo templo fosse destruído. D. Ford fez o seguinte comentário sobre o Daniel 9:24:
" 'Setenta semanas de anos estão determinados'. Como isto é parte da explicação literal de Daniel 8:1-14, não precisamos invocar o princípio dia-ano, embora seja verdade que os 'anos' em hebraico estão melhor subentendidos que declarados explicitamente".57

Freqüentemente é passado por alto o fato de que enquanto que Daniel 8 apresenta uma profecia simbólica, Daniel 9:24-27 não representa uma profecia simbólica e sim uma interpretação por parte do anjo dos símbolos de Daniel 8, sem voltar a usar os símbolos. Portanto, não devemos esperar que as "setenta semanas" sejam um símbolo mas sim uma referência clara a 70 semanas de anos (TA; BLH: "setenta anos vezes sete"). Jean Zurcher relacionou as "setenta semanas" de Daniel 9 com seu contexto, e concluiu:

"Tudo o que está no texto e no contexto se refere à mensagem dos anos sabáticos e de jubileu. A tradição judia, os talmudistas, o autor do Seder 'Olam, e os intérpretes judeus em geral, julgaram que as semanas na profecia de Daniel podem ser só semanas de anos. Há evidência que mostra que os pais da igreja usaram a mesma base para interpretar as 70 semanas".58
Precisamos recordar que o conceito de um "ano sabático" está estabelecido em Levítico 25:1-7 e que já é o resultado de uma conversão de dia-ano. A esse respeito, W. H. Shea declara que "Levítico 25:1-7 é a primeira passagem bíblica onde se aplica a equação dia-ano".59 Mas é mais provável que as "setenta semanas" do Daniel 9:24 tenham sua origem no conceito dos ciclos do jubileu de 49 anos cada um, porque um período de jubileu também se media em termos de "semanas de anos" (Lev 25:8).
Daniel reconheceu o princípio dia-ano ao fazer dos 490 anos reais de Daniel 9 uma parte dos 2.300 dias de Daniel 8, ao declarar que as 70 semanas estavam decretadas – ou, literalmente, "cortadas" – para a nação de Israel e para a cidade santa! Esta correlação de Daniel 8 e 9 contém a necessidade lógica da equação de um dia por um ano para os 2.300 dias. Além disso, Daniel descreve a interpretação que o anjo lhe dá de Daniel 8 em um detalhe muito maior em Daniel 11! Os "dias" de Daniel 8 são interpretados em termos de "anos" em Daniel 11:6, 8 e 13 como parte do tempo paralelo com o do capítulo 8.

Resumo

O livro de Daniel ensina o princípio dia-ano duas vezes: (1) Na correlação dos capítulos 8 e 9; e (2) na correlação paralela dos capítulos 8 e 11. Esta conclusão nos leva a aplicar os 3 ½ tempos ou 1.260 dias de Daniel e Apocalipse a 1.260 anos reais, sem ser dogmáticos a respeito de fixar datas precisas na história da igreja. Froom nos informa de um fato interessante:
"Na verdade, os protestantes historicistas diferiam grandemente quanto a quando começar e terminar o período dos 1.260 dias do anticristo, mas todos estavam de acordo na convicção de que lhe tinha atribuído um período de 1.260 anos, e que esse período se aproximava de sua terminação".60
As profecias apocalípticas se cumprirão e gradualmente se entenderão à medida que avança a história. Um cumprimento progressivo permite uma interpretação progressiva.

Um tempo dois tempos e metade de um tempo começa aqui.

A importância das datas de 508 e 538 d.C. - Supremacia papal (2)

Justiniano I tornou-se em 527 o único imperador do segmento oriental do Império Romano, conhecido como Império Bizantino. Seus ideais políticos e eclesiásticos são bem definidos por Daniel D. McGarry na seguinte declaração: Ele era inspirado por dois grandes projetos: [1] restaurar o Império Romano ao redor do Mediterrâneo Ocidental, e [2] restabelecer a unidade da Igreja Cristã. O primeiro alvo postulava a reconquista do ocidente do Mediterrâneo; o segundo, a erradicação da heresia no Egito e na Síria.1
 
Mas Justiniano não via esses dois alvos como dissociados um do outro. Em realidade, ele reconhecia que uniformidade em questões seculares só poderia ser bem-sucedida com “a mesma uniformidade em questões de fé.” Portanto, “Justiniano desejava reunificar todas as ramificações da Igreja Cristã e abolir todas as heresias”.2 De acordo com James Bryce: Não apenas orgulhava-se de sua ortodoxia, como vários soberanos anteriores haviam feito, mas tinha também grande confiança em sua própria capacidade como teólogo, e tomou parte ativa em todas as controvérsias da época. Sendo um estudante diligente e uma pessoa de algumas pretensões literárias, ele leu e escreveu consideravelmente sobre assuntos teológicos.3
 
Algumas decisões eclesiásticas muito significativas foram tomadas por Justiniano.4 Como um “campeão da ortodoxia”, ele “proibiu impiedosamente tanto o paganismo quanto a heresia”.5 R. W. Collins explica que os devotos das divindades pagãs foram privados de todos os direitos civis; assim eles não podiam exercer ofícios públicos, deixar como herança suas propriedades, ou servir como testemunha num julgamento. A pena de morte foi decretada a todos os que secretamente praticassem um culto pagão ou, uma vez convertidos, retornassem à sua antiga fé. Os filhos de pais pagãos deveriam ser tomados destes, batizados e instruídos na religião cristã. Todos os templos restantes eram convertidos em igrejas cristãs ou destruídos. Como um sopro final contra o paganismo, a Academia de Atenas, o último refúgio da filosofia pagã, foi fechada [em 529], seus professores foram dispersos, e suas doações, confiscadas.6
 
Considerando “a unidade da fé em um estado bem-organizado tão essencial quanto a unidade política”,7 Justiniano realizou um trabalho incomparável como “codificador e consolidador das leis preexistentes”, e como legislador, preparando “novas leis” que foram incorporadas em sua famosa Corpus Juris Civilis.8 Essa obra inclui não apenas leis civis, mas também leis eclesiásticas, por meio das quais a supremacia eclesiástica do papa foi oficialmente legalizada.9
 
Na segunda edição do seu Codex, publicado no dia 16 de novembro de 534,10 aparece uma carta escrita por Justiniano ao Papa João II, em 533 11, na qual ele reconhece o papa como “o cabeça de todas as Sagradas Igrejas”. Justiniano inicia sua carta com as seguintes palavras:
Justiniano, Vitorioso, Pio, Feliz, Renovado, Triunfante, sempre Augusto, a João, Patriarca, e o mais Santo Arcebispo da justa Cidade de Roma: Com honra à Sé Apostólica, e à Vossa Santidade, que é e sempre tem sido lembrada em Nossas orações, tanto agora como anteriormente, e honrando vossa alegria, como é próprio no caso de alguém que é considerado como um pai, Nós nos apressamos em trazer ao conhecimento de Vossa Santidade tudo o que esteja relacionado com a condição da Igreja, uma vez que sempre tivemos o maior desejo de preservar a unidade da Sé Apostólica, e a condição das Santas Igrejas de Deus, como elas existem no tempo presente, para que permaneçam sem distúrbios ou oposições. Portanto, Nós Nos empenhamos em unir todos os sacerdotes do Oriente e sujeitá-los à Sé de Vossa Santidade, e, em consequência das questões levantadas presentemente, embora elas sejam evidentes e livres de qualquer dúvida, e, de acordo com a doutrina da vossa Sé Apostólica, são observadas constantemente com firmeza e pregadas por todos os sacerdotes, Nós ainda consideramos necessário que elas sejam trazidas à atenção de Vossa Santidade. Pois não permitimos que nada que diga respeito à condição da Igreja, embora o que cause as dificuldades seja claro e livre de dúvida, seja discutido sem que seja trazido ao conhecimento de Vossa Santidade, porque Vós sois o cabeça de todas as Santas Igrejas, pois Nós Nos empenharemos de todas as formas (como já mencionado) para aumentar a honra e a autoridade da Vossa Sé.12
 
É importante notar também a maneira como o papa enfatizou sua própria autoridade em uma carta escrita a Justiniano:
 
João, Bispo da Cidade de Roma, ao seu mais Ilustre e Misericordioso Filho Justiniano: Entre as conspícuas razões para louvar a vossa sabedoria e nobreza, Mais Cristão dos Imperadores, e um que irradia luz como uma estrela, se encontra o fato de que pelo amor do Pai, e movido pelo zelo pela caridade, tu, instruído em disciplina eclesiástica, tens mantido a reverência pela Sé de Roma, e tens subjugado todas as coisas à sua autoridade, e lhe tens dado unidade. O seguinte preceito foi comunicado ao seu fundador, isto é, ao primeiro dos Apóstolos, pela boca do Senhor, a saber: “Apascenta os meus cordeiros”. Esta Sé é, em realidade, a cabeça de todas as igrejas, como assegurado pelos preceitos dos Pais e decretos dos Imperadores, e testificado pelas palavras de vossa mais venerável piedade.13
 
No mesmo ano (533), Justiniano promulgou um édito “contra todos os hereges”.66 Também em 533, um acordo de paz foi firmado entre os persas e os romanos, e os laureados filósofos pagãos, que se refugiaram entre os persas após Justiniano haver decretado o fechamento da escola deles em Atenas (529), “desapareceram gradativamente nas escolas públicas e seminários de erudição, que deixaram, com o passar do tempo, de estar sobre a direção deles”.14
 
Uma das maiores evidências do interesse de Justiniano nas questões da Igreja pode ser observado, entretanto, “nos edifícios que ele construiu por todo o império”.15 O maior deles foi a Igreja da Hagia Sophia, ou a Igreja da Sagrada Sabedoria, que “foi designada para ser o símbolo visível do poder imperial”, e da qual o imperador considerava-se a si mesmo o representante terrestre”.16 Construída em Constantinopla e dedicada no dia de Natal de 537, esse edifício tem sido considerado “o mais magnífico monumento da arte bizantina da época” e “o mais importante edifício na história da arte cristã”.17
 
 O ano de 538 d.C.
 
Como visto anteriormente, muitos eventos importantes ocorreram durante o período anterior a 538, preparando o caminho para a supremacia papal da Idade Média. Embora Justiniano houvesse reconhecido oficialmente em 533 a primazia eclesiástica do papa, a Igreja de Roma ainda não tinha liberdade política para exercer sua supremacia. Desde a queda do Império Romano (476), Roma estava sempre sob domínio de um rei ariano. Os hérulos dominaram Roma até o tempo em que o seu rei Odoacro foi assassinado por Teodorico, em 493.13 Em 534, os vândalos foram completamente derrotados por Belisário e o seu exército. Mas Roma ainda não havia sido libertada do domínio dos ostrogodos.
 
Em realidade, Roma, de acordo com Hodgkin, foi bloqueada por 374 dias, durante 537 e 538, pelo grande cerco dos ostrogodos. Mas por volta de 12 de março de 538, “os godos resolveram abandonar o seu cerco a Roma.”72 Herwing Wolfram esclarece que “no dia 21 de junho de 538, Belisário deixou Roma. Pouco depois, Narses, com sete mil homens, desembarcou em Picenum, provavelmente no porto de Firmum-Fermo. A superioridade numérica dos godos era agora uma coisa do passado.”18
Por conseguinte, “em 538, pela primeira vez desde o fim da linhagem imperial ocidental, a cidade de Roma estava livre do domínio de um reino ariano”.19 Isso não significa que naquela época o Império Ostrogodo sucumbiu, “mas a sepultura da monarquia ostrogoda na Itália foi cavada pela derrota desse cerco”.20
 
Também em 538 foi realizado o Terceiro Sínodo de Orleans,21 no qual “os bispos reunidos declararam a sua intenção de restabelecer as antigas leis da Igreja e aprovar novas leis”.22 Entre os 33 cânones, havia um (Cânone 13) no qual é dito que “os cristãos não devem se casar com judeus, nem mesmo comer com eles”;23 e outro (Cânone 28) diz:
 
É uma superstição judaica a noção de que é ilegal cavalgar ou dirigir no Domingo, ou fazer qualquer coisa para decorar a casa ou a pessoa. Mas os trabalhadores do campo são proibidos, de maneira que o povo tenha condições de vir à igreja e adorar. Qualquer que agir de outra forma será punido, não pelos leigos, mas pelos bispos.24
 
No dia 29 de junho de 538, o Papa Virgílio respondeu uma carta de Profuturo, Bispo de Braga, na Lusitânia, na qual ele “condena aqueles que se abstêm de certos tipos de carnes, alegando serem proibidas, ou más em si mesmas, como se procedessem de um princípio mau; que foi a doutrina dos maniqueus”.25
 
O fato de Virgílio ser levado a Constantinopla e mantido lá por sete anos (547-554),26 por não haver obedecido à vontade imperial, não significa que naquela época não houvesse um poder eclesiástico para apoiar as ambições católico-romanas. O verdadeiro problema foi que Justiniano, “que se orgulhava de seu conhecimento teológico e que tinha um amor apaixonado por subtis debates teológicos”, não estava satisfeito apenas em convocar concílios, sancionar ou revogar seus decretos, formular confissões de fé, e proferir veementes anátemas; ele estava determinado mesmo “a dominar o Papa, bem como a Igreja oriental”.27
 
De acordo com Bémont e Monod, À medida que o bispo de Roma estava se tornando, desta maneira, o primata indisputável da Itália, e exercendo uma função de liderança na Igreja universal, ele começou a se envolver em questões temporais, não apenas em Roma, mas também no Império, e mesmo entre os reinos bárbaros. Até o sexto século, todos os papas são declarados santos nas martirologias. Virgílio (537-555) foi o primeiro de uma série de papas a não mais trazerem esse título, que foi conferido parcimoniosamente desde aquele tempo. Dessa época em diante, os papas, cada vez mais envolvidos em assuntos temporais, não pertenciam apenas à Igreja; eles são homens de Estado, e, então, governantes do Estado.28
 
Platt e Drummont declaram que “poucos imperadores da Roma antiga tiveram tanto poder como o Papa durante a Idade Média”.29
 
Do que foi dito sobre o contexto histórico de 538 d.C., podemos concluir que (1) a despeito do fato de Símaco ter legalmente de se submeter algumas vezes ao herético rei ariano Teodorico, ele não apenas se considerava superior ao governante secular, mas chegou mesmo a se autodenominar “juiz em lugar de Deus” e “subgerente do Altíssimo”;30 (2) Justiniano I não apenas chamou o papa de “o cabeça de todas as Sagradas Igrejas”,31 mas também legalizou oficialmente a supremacia eclesiástica do papa; e (3) foi somente em 538 que a cidade de Roma se tornou livre do domínio de qualquer reino ariano “herético”, e a Igreja de Roma foi capaz de desenvolver mais efetivamente a sua supremacia eclesiástica.
 
A seguinte declaração é muito significativa para se obter uma clara ideia do relacionamento entre 533 e 538, como mencionado anteriormente:
 
Embora esse reconhecimento legal da supremacia eclesiástica do papa seja datado de 533, é óbvio que o édito imperial não pôde se tornar efetivo para o papa enquanto o reino ariano dos ostrogodos controlava Roma e grande parte da Itália. Foi somente após o domínio dos godos ter sido quebrado que o papado teve liberdade para desenvolver plenamente o seu poder. Em 538, pela primeira vez desde o fim da linhagem imperial ocidental, a cidade de Roma estava livre do domínio de um reino ariano. Naquele ano, o reino dos ostrogodos recebeu o seu golpe mortal (embora os ostrogodos sobrevivessem mais alguns anos como um povo). Esta é a razão porque 538 é uma data mais significativa do que 533.32
 
Resumo e conclusões
Uma análise da história do Cristianismo revela que vários passos importantes ocorreram entre os séculos quarto e sexto no processo pelo qual a Igreja Romana tornou-se cada vez mais influente em questões seculares. Esse processo culminou na união entre a Igreja e o Estado.
 
No tempo de Constantino, o Cristianismo obteve liberdade de culto, tornando-se uma das religiões oficiais do Estado. Os imperadores subsequentes avançaram mais e mais na direção de transformar o Cristianismo na religião exclusiva do Estado. Após o saque de Roma pelos visigodos em 410, Agostinho escreveu sua famosa obra A Cidade de Deus, na qual ele expôs “o ideal católico de uma igreja universal em controle de um estado universal”, provendo “a base teocrática para o papado medieval”.33 A conversão de Clóvis, rei dos francos, foi um evento muito significativo em prover a unificação da Europa Ocidental para apoiar o papado durante a primeira metade da Idade Média. E a guerra de Clóvis contra os visigodos arianos e sua vitória sobre eles em 508, representa um passo importante em prover um exército efetivo para a Igreja Católica Romana punir os “hereges”.
 
A despeito do fato de o Papa Símaco ser fortemente acusado e ter de se submeter ao julgamento do herético rei ariano Teodorico, ele se considerava superior ao governante secular e foi chamado até mesmo de “juiz em lugar de Deus” e “subgerente do Altíssimo”.34 Já em 533, Justiniano, imperador do Império Bizantino, reconheceu a supremacia eclesiástica do papa quando o chamou de “a cabeça de todas as Sagradas Igrejas”,35 e, no ano seguinte (534), esse status foi legalizado oficialmente na segunda edição do Codex. Mas foi somente em 538 que a cidade de Roma acabou sendo libertada do domínio de um “herético” reino ariano, e a Igreja Romana foi capaz de desenvolver mais efetivamente sua supremacia eclesiástica.
Podemos concluir, com base nas discussões anteriores, que, se tomarmos os eventos ocorridos em 508 e 538 isoladamente, sem levar em consideração os seus respectivos contextos históricos, poderemos ser tentados a negar a validade de se escolher essas datas como pontos de partida para os períodos proféticos dos 1.290 e 1.335 anos, e para os 1.260 anos. Mas se considerarmos os anos de 508 e 538 à luz dos seus respectivos antecedentes históricos, perceberemos que não existe qualquer razão para negarmos a importância histórica de tais datas no longo processo de estabelecimento da autoridade temporal do Bispo de Roma.

sábado, 30 de maio de 2015

PARA ONDE VÃO OS MORTOS?

Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em Mim, ainda que morra, viverá” (Jo 11:25).

Os
 seres humanos têm uma repulsa inata em relação à morte, porque fomos 
criados apenas para viver e nunca morrer. A morte é uma intrusa. Ela não
 foi planejada.

Por isso, durante Seu ministério terrestre, Jesus mostrou imensa compaixão pelos enlutados. Quando Ele viu a viúva de Naim, levando seu único filho para a sepultura, “Se compadeceu dela e lhe disse: Não chores!” (Lc 7:13). Ao desolado pai de uma menina de doze anos de idade, que tinha acabado de morrer, Cristo consolou, dizendo: “Não temas, crê somente” (Mc 5:36). Toda vez que a morte atinge nossos queridos, Jesus é ternamente comovido pela nossa dor. Seu coração compassivo chora conosco.

Mas Cristo faz muito mais do que chorar. Tendo vencido a morte com Sua própria morte e ressurreição, Ele tem as chaves dela, e promete ressuscitar para a vida eterna todo aquele que nEle crê. Essa é, sem dúvida, a maior promessa da Palavra de Deus. Caso contrário, se a morte tivesse a palavra final, toda a nossa vida e tudo que já realizamos teria sido inútil.

O estado dos mortos

Os autores do Antigo Testamento afirmaram de forma constante que o ser humano é indivisível. Os vários termos hebraicos geralmente traduzidos como carne, alma e espírito são apenas formas alternativas de descrever, de diferentes pontos de vista, a pessoa humana como um todo. Em harmonia com essa perspectiva, as Escrituras usam diferentes metáforas para descrever a morte. Entre elas, o sono se destaca como símbolo apropriado para refletir a compreensão bíblica da condição dos mortos (Jó 3:11-13; 14:12; Sl 13:3; Jr 51:39; Dn 12:2). A morte é a cessação completa da vida. É um estado de inconsciência em que não há pensamentos, emoções, obras, nem relacionamentos de qualquer tipo (Ec 9:5, 6, 10; Sl 115:17; 146:4).

Na época de Jesus, no entanto, essa compreensão da humanidade e, especialmente, da morte, foi desafiada pelo conceito dualista pagão da imortalidade da alma, que estava rapidamente se propagando por todo o mundo conhecido.

1. Como Jesus descreveu a morte de Seu amigo Lázaro? Jo 11:11
Apesar dessa e de outras passagens, muitos cristãos argumentam que Jesus acreditava na imortalidade da alma, pois Ele disse ao ladrão na cruz: “Em verdade, Eu digo a você, hoje estará comigo no paraíso” (Lc 23:43, NKJV). O significado desse texto muda totalmente, dependendo de onde as vírgulas são colocadas (os mais antigos manuscritos gregos do Novo Testamento não têm sinais de pontuação).

Se a vírgula for colocada depois de “você”, como a maioria das versões da Bíblia traduz o texto, significa que Jesus e o ladrão foram para o paraíso naquele mesmo dia. Se a vírgula for colocada depois de “hoje”, o texto significa que Jesus ao ladrão sua futura redenção. Na verdade, as palavras de Jesus enfatizam a certeza da salvação, não o momento da entrada do ladrão no Céu. O contexto confirma isso. Para começar, o ladrão não tinha pedido uma transferência imediata para o Céu no momento da morte, mas que fosse lembrado quando o Senhor viesse em Seu reino. Além disso, três dias depois, o próprio Jesus afirmou que Ele ainda não havia subido ao Paraíso (Jo 20:17). Esse texto, portanto, não ensina que as almas dos mortos vão para o Céu após a morte.

A esperança da ressurreição

Na criação, “formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida”; como resultado, “o homem passou a ser alma vivente” (Gn 2:7). Enquanto Deus mantém o fôlego de vida nos seres vivos, eles estão vivos. Mas, quando Ele tira o seu fôlego, eles morrem e voltam ao pó (Sl 104:29; Ec 12:7). Essa não é uma decisão arbitrária de Deus. É a consequência inevitável do pecado. Mas a boa notícia é que, por meio de Cristo, há esperança, mesmo na morte.

2. Leia João 1:1-4. O que está implícito nesses versos que mostra o poder de Jesus para ressuscitar os mortos?

Cristo tem vida em Si mesmo, pois Ele é a vida (Jo 14:6). Ele criou tudo e tem o poder de dar vida a quem Ele quer (Jo 5:21). Assim, Ele pode ressuscitar os mortos.

3. Como a ressurreição acontece? Lc 8:54, 55

De acordo com a Bíblia, a ressurreição é a reversão da morte. A vida é restaurada quando o fôlego de vida volta de Deus. Foi assim que Lucas explicou a ressurreição da filha de Jairo. Depois de saber que a menina, de doze anos, havia falecido, Jesus foi para a casa e disse aos pranteadores que ela estava dormindo. Então, “Ele, tomando-a pela mão, disse-lhe, em voz alta: Menina, levanta-te! Voltou-lhe o espírito [pneuma], ela imediatamente se levantou, e Ele mandou que lhe dessem de comer” (Lc 8:54, 55). Pela divina ordem de Jesus, o princípio de vida concedido por Deus voltou para a garota. O termo grego usado por Lucas, pneuma, significa “vento”, “fôlego” ou “espírito”. Quando a Bíblia o usa em relação aos seres humanos, nunca indica uma entidade consciente capaz de existir separada do corpo. Nesse texto, ele se refere claramente ao fôlego de vida.

A ressurreição e o Juízo

O que temos estudado até agora poderia nos levar a pensar que a ressurreição seja apenas para poucos. Mas Jesus afirmou que virá um tempo “em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a Sua voz e sairão” (Jo 5:28, 29, ênfase acrescentada). Crentes e descrentes, justos e pecadores, salvos e perdidos, todos serão ressuscitados. Como Paulo declarou: “Há de haver ressurreição de mortos, tanto dos justos como dos injustos” (At 24:15).

4. A pesar de que todos serão, finalmente, ressuscitados, para cada um haverá apenas um entre dois destinos eternos. Quais são eles? Jo 5:28, 29
A universalidade da ressurreição não significa que, no último dia, todos serão levados a uma bem-aventurada vida eterna. “Muitos dos que dormem no pó da Terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno” (Dn 12:2).

A Bíblia ensina que Deus julgará a vida de cada ser humano, determinando o destino eterno de cada pessoa que já viveu (Ec 12:14; Rm 2:1-11). A execução da sentença divina, no entanto, não ocorre imediatamente após a morte de cada indivíduo, mas só depois de sua ressurreição. Até então, os salvos e os perdidos dormem inconscientemente no pó. A ressurreição, por si só, não é recompensa nem punição. É a condição prévia para receber a vida eterna ou a condenação.

Falando das duas ressurreições, Jesus indicou que nosso destino será decidido com base na qualidade moral de nossas ações (boas ou ruins). Esse fato, porém, não significa que as obras nos salvam. Ao contrário, Jesus ensinou que a salvação depende exclusivamente de nossa fé nEle como nosso Salvador (Jo 3:16). Por que, então, as obras são levadas em consideração? Porque elas mostram se nossa fé em Cristo e nossa entrega a Ele são verdadeiras ou não (Tg 2:18). Nossas obras demonstram se ainda estamos “mortos nos [nossos] delitos e pecados” (Ef 2:1) ou “mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6:11).

O que Jesus disse sobre o inferno

Jesus usou dois termos gregos, hadēs e geena, para falar sobre a morte e a punição dos ímpios. Dada a crença popular no significado de “inferno”, é preciso considerar cuidadosamente essas palavras.
Hadēs é equivalente ao hebraico She’ol, o termo mais comum do Antigo Testamento para o reino dos mortos. Esses nomes representam simplesmente a sepultura ou o lugar para o qual todos descem na morte, sem nenhuma conotação de punição ou recompensa. Há um texto, entretanto, em que hadēs parece estar ligado à punição. É a parábola do rico e Lázaro.

5. Leia Lucas 16:19-31. Qual é a lição básica que essa parábola apresenta (ver especialmente v. 27-31)? O que há de errado em usar essa parábola para ensinar que os seres humanos vão para o paraíso ou para o inferno imediatamente após a morte?

Essa parábola não se concentra no estado do homem na morte. Uma crença popular, mas não bíblica, mantida por muitos dos contemporâneos de Jesus, proveu o contexto para essa parábola, que ensina uma lição importante: nosso destino futuro é determinado pelas decisões que tomamos diariamente nesta vida. Se rejeitarmos a luz que Deus nos concede hoje, não haverá oportunidade depois da morte. Qualquer tentativa de interpretar essa parábola literalmente leva a muitos problemas insolúveis. Na verdade, os detalhes do quadro parecem propositadamente estranhos, a fim de nos mostrar que Jesus não tinha a intenção de que Suas palavras fossem tomadas literalmente, mas figurativamente.

6. Que advertências Jesus pronunciou sobre o inferno? Mt 5:22, 29, 30; 23:33
Em muitas traduções da Bíblia, a palavra inferno aparece onze vezes nos lábios de Jesus. Na verdade, Ele usou o termo grego geena, da expressão hebraica Gê Hinom, “Vale de Hinom”. De acordo com o Antigo Testamento, nesse vale ao sul de Jerusalém, os reis Acaz e Manassés realizaram o horrendo ritual pagão de queimar crianças a Moloque (2Cr 28:3; 33:6). Posteriormente, o piedoso rei Josias interrompeu essa prática (2Rs 23:10). Por causa dos pecados cometidos no local, Jeremias profetizou que Deus iria torná-lo “o vale da Matança” (Jr 7:32, 33; 19:6).

Assim, para os judeus, o vale se tornou um símbolo do juízo final e da punição do impenitente. Jesus usou o nome figurativamente, sem explicar detalhes sobre o tempo e o lugar da punição, que encontramos em outras passagens bíblicas. O inferno, porém, não é um lugar de castigo eterno.

Jesus venceu a morte

7. Por que podemos declarar que a ressurreição de Lázaro foi o clímax do ministério terrestre de Cristo? Jo 11:38-44

Embora Jesus tenha ressuscitado outras duas pessoas, nenhum desses casos foi tão dramático como esse. Lázaro estava morto havia quatro dias, fato que Marta confirmou ao lado da sepultura. Jesus realizou o milagre em plena luz do dia diante de uma multidão de respeitadas testemunhas de Jerusalém.

A evidência não podia ser rejeitada.

Contudo, muito mais importante do que a ressurreição de Lázaro, foi a própria ressurreição de Jesus. Uma vez que Ele tem vida em Si mesmo, Ele não somente tem o poder de ressuscitar os mortos e dar vida a quem Ele quer (Jo 5:21), mas também tem o poder de dar a própria vida e reassumi-la (Jo 10:17, 18). Sua ressurreição provou isso de forma convincente.

8. Qual é a relação entre a ressurreição de Cristo e a nossa? Por que Sua ressurreição é tão importante para nossa salvação? 1Co 15:17-20

O poder de Cristo para quebrar os laços da morte é indiscutível. Ele ressuscitou do sepulcro como as primícias dos que dormiram nEle. Sua ressurreição é a garantia da ressurreição de todos os crentes, pois Ele tem as chaves da morte (Ap 1:17, 18).

“Para o crente, Cristo é a ressurreição e a vida. Em nosso Salvador é restaurada a vida que se havia perdido mediante o pecado; pois Ele possui vida em Si mesmo, para vivificar a quem quer. Acha-Se investido do direito de conceder a imortalidade.

A vida que Ele depôs como homem, Ele reassumiu e concedeu aos homens” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 786, 787).

Perguntas para reflexão

1. Todos nós já lutamos com a realidade da morte, seu suposto caráter definitivo e sua aparente falta de sentido. Se, como muitos acreditam, não há Deus, não há esperança de vida eterna nem ressurreição, então qual é o sentido da vida humana?
O que ela significa se, mais cedo ou mais tarde, todos os vivos morrem e a memória de cada um deles desaparece? Como nossa compreensão da ressurreição responde a esse dilema?

2. Quais são alguns dos perigos inerentes à ideia da imortalidade da alma? Por que Satanás está ansioso para divulgar essa crença não bíblica? Qual será o papel desse conceito no cenário religioso do tempo do fim? De quais enganos são poupados os que entendem a morte como um sono até a ressurreição?

VIDA APÓS A MORTE

Dez perguntas para resposta ou uma séria reflexão dos que creem na imortalidade da alma.

 
1º – Por que Jesus diz a Seus seguidores que iria subir para lhes “preparar moradas”, mas a ênfase que dá quanto à ocupação das mesmas é o momento do reencontro com eles quando retornasse para os receber, e não quando morressem e suas almas fossem para o céu para as irem ocupando (João 14:1-3)

2º – Por que Cristo e Paulo acentuam que os mortos ressuscitarão ao ouvirem a voz do arcanjo e a trombeta divina, sendo “despertados” do sono da morte (Mateus 24:30; 1 Tessalonicenses 4:16), quando suas almas supostamente vêm do céu, inferno, purgatório para reincorporarem, estando já bem despertas?

3º – Por que Jesus, quando confortava as irmãs do falecido Lázaro, além de empregar a metáfora do sono-“Nosso amigo Lázaro está dormindo. . .”-não lhes indicou que o falecido estava na glória celestial, mas referiu-lhes a esperança da ressurreição (João 11:17-27)?

4º – Quando Cristo ressuscitou a Lázaro, após estar o seu amigo morto por quatro dias, tirou-o do céu, do inferno ou do purgatório? Se foi do céu fez-lhe uma maldade trazendo-o de volta para sofrer nesta Terra. Se foi do inferno (pouco provável, pois ele era um seguidor do Mestre), concedeu-lhe uma segunda oportunidade de salvação, o que é antibíblico.

5º – Onde é dito que o lago de fogo, que acontece sobre a Terra (Apocalipse 20: 9, 14, 15) se transfere para alguma outra parte do universo e ali continua queimando, quando o contexto imediato diz que logo em seguida à segunda morte o profeta viu “novo céu e nova terra . . . e o mar já não existe” (Apocalipse 21:1)?

6º – Por que Paulo, ao discutir específica e detalhadamente em 1 Tessalonicenses 4:13-18 e, especialmente, no capítulo 15 de 1 Coríntios, como será o reencontro final de todos os salvos com o Salvador em parte alguma fala de almas vindas do céu, ou seja de onde for, para reincorporarem?

7º – Paulo diz ainda aos Tessalonicenses que não deviam lamentar pelos seus amados falecidos que “dormiam”, encerrando com a recomendação: “Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras” (vs. 18). Ele não diz que já desfrutavam as bênçãos celestiais, e sim que estavam “dormindo” e seriam despertados. Por que a consolação deriva da promessa da ressurreição, e não de que as almas de seus entes queridos já estivessem no céu?

8º – Paulo diz claramente que sem a ressurreição dos mortos confirmada e garantida pela do próprio Cristo-“os que dormiram em Cristo pereceram” (1 Coríntios 15:16 a 18). Por que pereceram, já que deviam estar garantidos com suas almas no céu?

9º – Mais adiante no mesmo capítulo Paulo confirma o que disse nos vs. 16 a 18, acentuando que arriscou morrer lutando com feras, dando a entender que se morresse estaria também perdido (vs. 32). Ao comentar, “comamos, bebamos que amanhã morreremos”, não estaria claramente indicando que sem a realidade da ressurreição, não há esperança alguma de vida eterna?

10º – Por que Jó fala de sua esperança em ver o seu Redentor “na minha carne”, quando Ele finalmente “se levantará sobre a Terra”, e não que iria vê-lo quando sua alma fosse para o céu (Jó 19:25)?
Autor: Prof. Azenilto G. Brito

sexta-feira, 10 de abril de 2015

A TENTAÇÃO DE CRISTO

(Lucas 4:1-13)
1  E JESUS, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto;
2  E quarenta dias foi tentado pelo diabo, e naqueles dias não comeu coisa alguma; e, terminados eles, teve fome.
3  E disse-lhe o diabo: Se tu és o Filho de Deus, dize a esta pedra que se transforme em pão.
4  E Jesus lhe respondeu, dizendo: Está escrito que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus.
5  E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo.
6  E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero.
7  Portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
8  E Jesus, respondendo, disse-lhe: Vai-te para trás de mim, Satanás; porque está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás.
9  Levou-o também a Jerusalém, e pô-lo sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo;
10  Porque está escrito: Mandará aos seus anjos, acerca de ti, que te guardem,
11  E que te sustenham nas mãos, Para que nunca tropeces com o teu pé em alguma pedra.
12  E Jesus, respondendo, disse-lhe: Dito está: Não tentarás ao Senhor teu Deus.
13  E, acabando o diabo toda a tentação, ausentou-se dele por algum tempo.

Ø  Não só de pão viverá o homem. (Lucas 4:4)
Ø  Não só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de DEUS. (Mateus 4:4)

A tentação começa colocando a palavra de DEUS em dúvida. “Se tu és o filho de DEUS”

Passados apenas 40 dias, quando DEUS havia dito.
Ø  Mateus 3:17 ou Lucas 3:22 “Este é meu filho amado, em quem me comprazo”

Satanás quer que duvidemos da palavra de DEUS.
Atenção: Duvidar da palavra de DEUS é o primeiro passo para ceder a tentação e consequentemente perder a salvação.

Vejamos:
Ø  Êxodo 31:12-13 Falou mais o SENHOR a Moisés, dizendo: Tu, pois, fala aos filhos de Israel, dizendo: Certamente guardareis meus sábados; porquanto isso é um sinal (SELO) entre mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que eu sou o SENHOR, que vos santifica”.
Ø  Êxodo 31:18 “E deu a Moisés (quando acabou de falar com ele no monte Sinai) as duas tábuas do testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus”.
Ø  Êxodo 20:1 “ENTÃO falou Deus todas estas palavras, dizendo:”.

Hoje satanás faz a mesma coisa, leva as pessoas a duvidar da palavra de DEUS dizendo:
“O sábado foi abolido, a lei não vale mais, guarde apenas oito (8) ou nove (9) mandamentos que é o suficiente”.  Vamos ler:
Ø  Tiago 2:10 “Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos”.

Observe que Lucas e Mateus apresentam a 2ª e 3ª tentação de Cristo em ordem invertida.

Satanás quer ser adorado. Nós adoramos a quem obedecemos: “Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?” Romanos 6:16

Ø  Isaías 14:12-14 “Como caíste desde o céu, ó estrela da manhã, filha da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo”.

Ø  Lucas 4:5-8 “E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero. Portanto, se tu me adorares, tudo será teu. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Vai-te para trás de mim, Satanás; porque está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás”.


Aqui satanás tentou fazer Jesus quebrar os três (3) primeiros mandamentos:
Ø   Êxodo 20:3-7 “Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos. Não tomarás o nome do SENHOR teu Deus em vão; porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão”.

O próprio Jesus citou a Bíblia:
Ø  Deuteronômio 6:4 e 5 e 13 e 16 “Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é o único SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças. O SENHOR teu Deus temerás e a ele servirás, e pelo seu nome jurarás. Não tentareis o SENHOR vosso Deus, como o tentastes em Massá; Diligentemente guardareis os mandamentos do SENHOR vosso Deus, como também os seus testemunhos, e seus estatutos, que te tem mandado”.

O Senhor teu DEUS amarás, servirás e adorarás... João 14:15 “Se me amais guardareis os meus mandamentos”.

Vamos lembrar de um episódio da história: Satanás disse a Eva, certamente não morrerás, mesmo DEUS falando certamente morrerás... DEUS falou guarde os meus mandamentos e satanás diz não precisa guardar.

Ø  Hebreus 4:14-15 “Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado”.

Ø   1º Coríntios 10:13 “Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar”.