domingo, 11 de outubro de 2020

O PORCO FOI PURIFICADO NA CRUZ?

 

O PORCO FOI PURIFICADO NA CRUZ?

É Para Comer de Tudo do Açougue?

Por que Paulo escreveu aos coríntios: Comei de tudo quanto se vende no açougue, sem perguntar nada, por causa da consciência”? (I Coríntios 10:25).

“O VERSICULO 28 “Mas, se alguém lhes disser: Esta carne foi oferecida a um ídolo, não a comam por respeito à consciência da pessoa que os avisou”. 1 Coríntios 10:28, e bem assim todo o contexto, desde o verso 14 e também todo o capítulo 8, esclarecem que o assunto trata exclusivamente de CARNES OFERECIDAS AOS ÍDOLOS. Não se fala aqui das espécies de carnes, mas sim das que haviam sido oferecidas aos ídolos antes de irem para o açougue. Todavia, nem sempre a carne era previamente sacrificada. Isso, o presente texto nos dá a entender com bastante clareza, pois diz Paulo: ‘Sem nada perguntardes por escrúpulos de consciência’

Se toda carne fosse sempre oferecida aos deuses antes de ir para o mercado, ninguém precisava ter dúvidas; mas como o não era, e mesmo porque não havia importância em saber, o crente não tinha necessidade de perguntar coisa alguma. Paulo não diz aqui que não deviam perguntas para saber de que espécie era a carne, se deste ou daquele animal, porque isto, naturalmente, não estava em questão. Eles não tinham razão para perguntar, a não ser que fossem advertidos por alguém.

Quanto ao comer das coisas sacrificadas aos ídolos, disse Paulo: “No tocante à comida sacrificada a ídolos, sabemos que o ídolo, de si mesmo, nada é no mundo e que não há senão um só Deus”. (I Coríntios 8:4).

Ninguém precisava preocupar-se com isto porque os ídolos, nada sendo senão matéria inanimada, também não podiam influir na carne. E além disto, antes de comê-la, se pedia sobre ela a bênção de Deus. “Se eu participo com ações de graças, por que hei de ser vituperado por causa daquilo por que dou graças? Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”. (1 Coríntios 10:30-31) “Pois tudo que Deus criou é bom, e, recebido com ações de graças, nada é recusável, porque, pela palavra de Deus e pela oração, é santificado. (1 Timóteo 4:4-5)

Mas, se alguém tinha dúvidas, a advertência era: ‘Aquele que tem dúvidas, se come está condenado’ “É bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa com que teu irmão venha a tropeçar [ou se ofender ou se enfraquecer]. A fé que tens, tem-na para ti mesmo perante Deus. Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova. Mas aquele que tem dúvidas é condenado se comer, porque o que faz não provém de fé; e tudo o que não provém de fé é pecado”. (Romanos 14:21-23).

Também, se alguém advertia ao crente, dizendo-lhe que aquela carne havia sido sacrificada aos ídolos, então ele, por amor à consciência daquele que o advertia, não devia comer. Compreende-se claramente que Paulo, em todos esses versículos, põe em relevo o mal de comer para escândalo dos fracos. E sobre isto, diz: “Pecando assim contra os irmãos, e ferindo a sua fraca consciência, pecais contra Cristo... Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus” (I Cor. 8:12; 10:31).

Não que houvesse mal em usar das carnes sacrificadas aos ídolos, quer adquirindo-as nos açougues, quer comendo-as na casa de algum gentio, porque os ídolos nada são; o que se condenava era o errôneo procedimento de alguns crentes, que ainda costumavam ir aos templos pagãos e ali banquetear-se, em suas mesas, com os sacrifícios feitos em honra aos deuses.

“Ao contrário, devemos escrever a eles dizendo-lhes que se abstenham de alimentos oferecidos a ídolos, da imoralidade sexual, da carne de animais estrangulados e do sangue”. Atos 15:20

“Quanto aos convertidos gentios, devem fazer aquilo que pedimos por carta: abster-se de comer alimentos oferecidos a ídolos, de consumir o sangue ou a carne de animais estrangulados e de praticar a imoralidade sexual”. Atos 21:25 “Portanto, meus amados, fujam do culto aos ídolos. 1 Coríntios 10:14 e “Filhinhos, afastem-se dos ídolos”. 1 João 5:21

Paulo não estaria ordenando os cristãos a comerem de tudo?

(I Timóteo 4:1-5)

O texto de I Timóteo 4:1-5 fala da apostasia dos “últimos tempos”, quando falsos mestres propagariam “ensinos de demônios”, proibindo “o casamento” e exigindo a “abstinência de alimentos, que Deus criou para serem recebidos, com ações de graça, pelos fiéis e por quantos conhecem plenamente a verdade”. A isso é acrescentado: “pois tudo que Deus criou é bom, e, recebido com ação de graças, nada é recusável, porque, pela Palavra de Deus e pela oração, é santificado”.

Algumas pessoas têm sugerido, que nesse texto Paulo esteja eliminando todas as distinções entre alimentos “limpos” e “imundos” do Antigo Testamento (Levíticos 11), e que os cristãos do Novo Testamento têm hoje plena liberdade de comer, sem quaisquer restrições, de “tudo que Deus criou”. Ora, se esse fosse o caso, então estaríamos justificados em comer até mesmo a carne de outros seres humanos, também criados por Deus (Gênesis 1:26 e 27), o que é completamente inaceitável.

Abalizados comentaristas bíblicos têm reconhecido que a discussão de Paulo em I Timóteo 4:1-5 diz respeito a certas proibições alimentares antibíblicas, propagadas pelos gnósticos do 1.º século d.C. Os adeptos do gnosticismo criam que a matéria fora criada não por Deus, mas por uma divindade inferior (Demiurgo), sendo má em sua essência. Abstendo-se de relações sexuais e de certos alimentos “materiais” (especialmente de toda espécie de carne), criam que estavam dando provas de uma mais profunda espiritualidade, que levaria a alma a libertar-se futuramente de tudo o que é material.

Paulo contesta essa dicotomia gnóstica, ao afirmar que os verdadeiros “alimentos” foram criados pelo próprio Deus (e não por uma divindade inferior), sendo consequentemente bons e apropriados para o consumo. Portanto, o texto sob discussão não está dizendo que podemos comer de tudo o que Deus criou (alimentos e não alimentos),

Mas apenas de tudo aquilo que Ele criou com o propósito específico de servir como alimento.

“Tais ensinamentos vêm de homens hipócritas e mentirosos (Gnósticos), que têm a consciência cauterizada e proíbem o casamento e o consumo de alimentos que Deus criou para serem recebidos com ação de graças pelos que creem e conhecem a verdade. Pois tudo o que Deus criou é bom, e nada deve ser rejeitado, se for recebido com ação de graças, pois é santificado pela palavra de Deus e pela oração”. 1 Timóteo 4:2-5

Epifânio de Salamis, relata alguns detalhes da vida de Nicolau, o diácono, e o descreve gradualmente afundando na mais grotesca impureza. Tornando-se originador dos Nicolaítas e outras seitas gnósticas.

O que é gnóstico: Gnóstico é um termo que deriva do grego "gnostikós" cujo significado remete para algo ou alguém que é capaz de conhecer. O gnosticismo designa um conjunto de crenças de natureza filosófica e religiosa cujo princípio básico assenta na ideia de que há em cada homem uma essência imortal que transcende o próprio homem. Os gnósticos consideram a existência humana neste mundo como não natural, por estar submetida a diversos sofrimentos.

De acordo com o gnosticismo, o caminho para a libertação desses sofrimentos é através do conhecimento. Não um conhecimento adquirido de forma racional e com base científica, mas um conhecimento intuitivo e transcendental que dá sentido à própria vida humana. O gnosticismo tem origem em várias seitas religiosas anteriores ao cristianismo, mas nos primeiros séculos da era cristã chega a misturar-se com o próprio cristianismo. Posteriormente veio a ser declarado como pensamento herético. Há quem defenda a existência de um gnosticismo pagão e um gnosticismo cristão.

1. O ensino gnóstico.

O gnosticismo ensinava que havia um ser supremo e que decidiu criar um mundo espiritual. Para a criação deste mundo, criou um ser espiritual inferior a ele, e esse por sua vez criou um ser espiritual inferior a ele, e este por sua vez criou outro ser espiritual inferior, e assim foi prosseguindo. Essas criações são chamadas de emanações. Ao todo foram 365 emanações. A última delas, ao fazer sua criação errou e seu erro foi esse mundo material na qual vivemos.

Para o Gnóstico, tudo o que é material é mau e tudo o que é espiritual é bom. Por ser criado por um ser espiritual, há neste mundo porções espirituais, só que estas estão aprisionadas dentro de alguns seres humanos. A salvação para os gnósticos é se libertar desse corpo material e voltar para o mundo espiritual. Só que essa libertação só acontece com um “conhecimento especial”. No Gnosticismo, Jesus é o mensageiro de Deus que trouxe esse conhecimento.

Os gnósticos não priorizavam apenas o “conhecimento”, mas a mortificação da carne, o que os dificultava a crer que Deus veio em carne por Jesus Cristo (1JO 4.1-3; 2JO 7). O gnosticismo reivindica um conhecimento maior e especial da verdade, uma tendência a considerar o conhecimento como algo superior à fé e uma visão de uma nova luz que o cristianismo comum não possui.

A carne é essencialmente pecaminosa e a fonte de todo mal. Os mesmos acreditam que o homem não tem o livre arbítrio. Negam a verdadeira natureza humana de Cristo e, sobretudo, seus próprios sofrimentos na cruz como sendo algo irreal.

Afirmam que a comunhão com Deus é alcançada mediante o ascetismo ou negação dos prazeres e bem-estar da vida. Com base em 1 Coríntios, o gnosticismo prega a abstinência ao casamento (1Co 7) e prioriza os tribunais em detrimento das resoluções comunitárias (1Co 6.1-11).

Os textos do AT eram o produto do criador inferior do mundo, que era o deus dos judeus, mas não o verdadeiro e supremo Deus.

2. As divergências Doutrinárias.

O gnosticismo nega doutrinas elementares do Cristianismo como:

A Criação do Mundo, conforme narrada em Gênesis. A criação do mundo não foi um erro, e sim a execução da vontade de Deus, e tudo o que Ele fez “era bom” (Gênesis 1.31). A doutrina da expiação é negada, pois a obra principal de Cristo para o gnóstico foi seu ensino e não sua obra salvífica na cruz.

A doutrina da ressurreição, já que esta, diz respeito também ao corpo e para o gnóstico o corpo não presta, portanto não há lugar para a doutrina da ressurreição na concepção gnóstica.

A doutrina do pecado, o gnosticismo vê o pecado como um mal físico que contamina o espírito humano. Por isso, esse mal deve ser vencido por meios físicos. O ensino insinua que o pecado é eterno e independente do Deus eterno, sugere que Deus é limitado por um poder co-eterno , que Ele não pode controlar. Ou seja, o mal possui o seu próprio poder, assim como Deus possui o seu. A Bíblia refuta terminantemente essa teoria, pois o pecado não é eterno; e, quando o homem pecou, fez isso por escolha intencional e voluntária.

3. O gnosticismo na pós-modernidade.

O gnosticismo em nosso presente século tem causado tantos danos como nos séculos passados, o mesmo não tem se apresentado com a mesma roupagem, entretanto suas vertentes em várias ramificações evidentes entre diversos credos e seitas se tornaram uma instrumentalidade para a dissolução da sã doutrina.

Segundo Paulo Romeiro “Na virada do século, as seitas gnósticas têm se tornado uma parte da história religiosa no nosso próprio país. O mormonismo, tornando homens em deuses, e a Ciência Cristã, com seus métodos de unidade com a Mente Divina, foram ambos estabelecidos no século passado. A mitologia do mormonismo e as "leis" da Ciência Cristã são reflexos diretos do pensamento gnóstico. (Por Jefferson Tavares)

Texto de autoria do Dr. Alberto Timm, publicado na Revista Sinais dos Tempos,

 

Como Podemos Entender Mateus 15:10-20?

“Não é o que Entra Pela Boca o que Contamina o Homem”

Não é necessário ser um perito em exegese (comentário ou dissertação que tem por objetivo esclarecer ou interpretar minuciosamente um texto ou uma palavra) bíblica para perceber que Cristo está se referindo aqui não à contaminação física e sim à contaminação espiritual do homem. Se realmente pudéssemos ingerir qualquer coisa, sem que isso prejudicasse o nosso organismo, então não haveria mais necessidade de conhecermos os princípios básicos de nutrição e higiene, de procurarmos consumir apenas os alimentos da melhor qualidade, a China é um exemplo que serviria apropriadamente para este verso, pois eles comem praticamente todo tipo de animais e insetos. A pergunta é nós podemos comer de tudo mesmo?

Para compreendermos a declaração de Mateus 15:11, precisamos levar em consideração o fato de que ela foi proferida por Cristo em resposta à acusação dos “fariseus e escribas”, de que os discípulos transgrediam “a tradição dos anciãos, ao comerem sem antes lavar as mãos: Então, vieram de Jerusalém a Jesus alguns fariseus e escribas e perguntaram: Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos, quando comem”. Mateus 15:1-2. Esse ato de lavar ritualmente as mãos não era motivado por razões de higiene, mas para evitar a contaminação religiosa. Mesmo destituído de qualquer fundamentação bíblica, o rito era considerado pelos fariseus tão normativo como a própria lei mosaica, eles tinham que lavar as mãos sete vezes, até a água escorrer no cotovelo, só assim estariam purificados.

Tentando romper com essa tradição infundada, Cristo declarou que a contaminação religiosa do ser humano não reside na prática de ritos exteriores, mas na degradação interior do coração que se manifesta exteriormente. Ele esclarece: “Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias. São estas as coisas que contaminam o homem; mas o comer sem lavar as mãos não o contamina” (Mateus 15:19 e 20; ver também Mateus 23:1-39). Em outras palavras, Cristo deixou claro que o mal que sai da boca é muito maior do que qualquer mal que possa entrar nela quando se come alimento “ritualmente impuro”.

O mesmo incidente de Mateus 15:1-20 é também registrado em Marcos 7:1-23, com o acréscimo das palavras: “E, assim, considerou ele puros todos os alimentos (Marcos 7:19). É importante notarmos que, mesmo nesta afirmação, Cristo não está dizendo que todas as coisas, quer animais ou vegetais, são puras e apropriadas para a alimentação. O que o texto está enfatizando é simplesmente o fato de que todas as coisas divinamente criadas com o propósito de servirem como alimento aos seres humanos são apropriadas, independente da falsa contaminação a elas atribuídas pelas tradições farisaicas sobre o lavar ritual das mãos antes das refeições.

“Mas o que sai da boca vem do coração, e é isso que contamina o homem. Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias. São estas as coisas que contaminam o homem; mas o comer sem lavar as mãos não o contamina”. (Mateus 15:18-20). Fonte: Sinais dos Tempos, maio de 1998, p. 29

Pedro e a visão do lençol:

No Templo de Jerusalém havia um limite para os gentios. Uma placa indicativa dizia: “Nenhum estrangeiro pode passar além da balaustrada e da parede que cercam o lugar santo. Quem quer que seja apanhado violando este regulamento será responsável pela sua morte, que se seguirá”.

A visão de Pedro do lençol repleto de animais, puros e imundos, relatada em Atos 10, tem sido utilizada para provar a liberação divina para se comer as carnes que foram proibidas ao homem, deixando os que assim creem de consciência tranquila. Será, entretanto, que essa tranquilidade continuará, ao descobrirmos agora exatamente o contrário?

A expressão divina:  “Levanta-te, Pedro, mata e come” (Atos 10:13)

Isolada de seu contexto, tornou-se a mola mestra da engrenagem dos que se conformam com a superfície do versículo, mas a você, apelo outra vez: nunca se satisfaça com um texto isolado. Não é bom nem correto. É preciso estudá-lo junto ao contexto, e, necessariamente, comparando com outras escrituras.

Descubramos, portanto, como deveria ser estudado este capítulo de Atos 10:

Verso 1:“E havia em Cesaréia um varão por nome Cornélio, centurião da corte chamada italiana.” (Atos 10:1). Cesaréia era um “porto marítimo de Saron, construído por Herodes, o grande, em 13 a.C. Residência dos procuradores romanos”. Por conseguinte, trata-se, possivelmente de um homem romano o bom Cornélio, pois além de um cargo militar altamente importante, servia em uma base radicalmente romana. Em última análise, uma coisa é líquida e certa, não esqueça, ele não era judeu, era um gentio. Você por acaso sabe o que um judeu pensava a respeito de um gentio por essa ocasião?

Verso 2: “Piedoso e temente a Deus, com toda a sua casa, o qual fazia muitas esmolas ao povo, e de contínuo orava a Deus.” (Atos 10:2)

Que quadro lindo! Solenemente espetacular! Um proscrito para os judeus amava e servia ao Deus dos judeus, e este amor era à prova de crítica. Vestido com roupa de trabalho, pois diz a Bíblia que ele auxiliava, socorria com seus bens os menos favorecidos, e dentre os tais, quem sabe, muitos judeus. Era desprendida sua devoção, sincera, partia de um coração anelante por conhecer mais o Deus de Israel. E o mais maravilhoso é que Deus “atentou” para aquele que aos olhos dos judeus não merecia sequer conhecê-Lo.

Da leitura dos versos 3 a 8, concluímos que o amor de Deus envolveu Cornélio e o prestigiou com a comissão de um anjo que trazia do Céu, a aprovação para seu gesto caridoso e amante, orientando-o a ir em busca do apóstolo Pedro, dando-lhe para tanto as indicações, como: cidade, rua, casa e número da casa, etc.

Versos 9 e 10 “E no dia seguinte, indo eles em seu caminho, e estando já perto da cidade, subiu Pedro ao terraço para orar, quase à hora sexta (1/2 dia). E tendo fome, quis comer; e enquanto lhe preparavam, sobreveio-lhe um arrebatamento de sentido”. (Atos 10:9-10)

O Senhor preparava Pedro para a grande mensagem. Assim, conforme dizem os versos 11 e 12, Deus mostrou-lhe em visão, o famoso lençol zoológico, e declarou: Verso 13 “… levanta-te Pedro, mata e come”. (Atos 10:13). Tal ordem suscitou imediatamente do obediente apóstolo a dramática, sincera e inolvidável declaração:

Verso 14 “…De modo nenhum, Senhor. Porque nunca comi…coisa imunda”. (Atos 10:14)

Observe o irmão, a magnitude do acontecimento, que se repetiu por três vezes, voltando a se recolher ao Céu, conforme os versos 15 e 16.

Os versos 17 e 18 relatam que Pedro estava desconcertado com aquela visão, e, tentando chegar a uma conclusão razoável, pôr em ordem os seus desencontrados pensamentos, quando – pasme – batem à porta. Eram os homens que o bom Cornélio enviara, conforme instrução de Deus. Atenção agora para o verso seguinte:

Verso 19:   “…Eis que três varões te buscam. ” (Atos 10:19) Em meio ao aturdimento de Pedro, Deus avisa-o que “três varões” o procuravam e que ele, sem demora, deveria descer e se apresentar aos estrangeiros, pois fora Deus quem os enviara. Observe o prezado irmão as nuanças da visão, os detalhes divinos.

A visão apareceu a Pedro três vezes.

Também três varões apareceram-lhe, enviados por Cornélio, com a indicação do anjo do Senhor.

• Deus lhe deu a visão exatamente na hora em que Pedro estava com fome, para melhor aguçar a lição que desejava ensinar ao apóstolo. O apetite é um grande teste. No verso 22, os varões falaram a Pedro a respeito de Cornélio, da aprovação de Deus para com ele e do anjo que os enviou à sua procura.

Pedro então, imediatamente recebeu-os em casa, e no dia seguinte, tomando alguns irmãos de Jope, rumou para Cesaréia, a fim de realizar um grandioso trabalho missionário, conforme a leitura do verso 23. Um dia depois, chegam ao seu destino, e maravilhados contemplam um grupo de gentios, sedentos do evangelho, almejando a salvação bem como trilhar os caminhos de Deus, segundo se depreende da leitura dos

Versos 24-27. Diante deste quadro, Pedro reprime as lágrimas, cumprimenta os gentios afetuosamente, e se prepara para lhes anunciar as boas novas da salvação. Sinceridade, submissão e humildade são características daqueles que de fato almejam fazer a vontade de Deus e preparam-se para o Céu; sob essa bandeira que deve ser a minha e a sua atitude para com a Bíblia, ouçamos o apóstolo Pedro:

Verso 28 “E disse-lhes: vós bem sabeis que não é lícito a um varão judeu ajuntar-se ou achegar-se a estrangeiros (Gentios): mas Deus mostrou-me que A NENHUM HOMEM CHAME COMUM OU IMUNDO. (Atos 10:28)

Os judeus achavam-se os únicos dignos da graça de Deus, e por isso consideravam todos os demais como imundos, na pura acepção da palavra. Entretanto o evangelho não é exclusivo de grupos privilegiados ou nação isolada (embora Israel já tenha tido este privilégio até a morte de Estêvão)Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniquidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o Santo dos Santos” (Daniel 9:24); e, como a mensagem do Evangelho Eterno deveria alcançar todas as pessoas, aprouve a Deus forjar um encontro entre o judeu e o gentio, isso por meio do apóstolo Pedro, que entre todos, parecia ser o mais apegado às tradições e ao exclusivismo nacional e espiritual.

Do verso 29 a 33, Cornélio, o gentio a quem Deus amava e queria que ouvisse do evangelho que vem dos judeus, relata a visão que tivera e como tomara a decisão de mandar buscar a Pedro, declarando:

Verso 33 “…Agora, pois, estamos todos diante de Deus para ouvir tudo quanto por Deus te é mandado”. (Atos 10:33) Diante de fatos tão sublimes, vendo a operação maravilhosa do Espírito Santo naqueles corações, observando como o Senhor estava demonstrando Seu amor por pessoas de outra raça, Pedro deixa cair por terra sua tradição e preconceito de que os gentios não eram dignos da salvação nem do favor de Deus, e, exclamando com toda veemência, quedado diante da Onipotência divina, diz:

Versos 34 e 35  “…Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas; mas que Lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, O teme e obra o que é justo.” (Atos 10:34-35). Como é clara a verdade divina ensinada ao apóstolo Pedro! Deus ama a todos os homens, quer salvar a todos indistintamente. Morreu por todos: judeus e gentios. A cruz atrai todas as raças e une todos os povos.

Dos versos 36 a 48, é relatada a convicção de Pedro de que aqueles gentios foram aceitos por Deus, e assim não hesitou em pregar-lhes com poder as boas novas da salvação. E nesta oportunidade, para sedimentar Sua aprovação por aquele sincero grupo de crentes gentios, revelando publicamente Seu agrado, Deus enviou-lhes o Espírito Santo, causando espanto geral. Era a aprovação total. O amor de Deus alcança a todos, judeus e gentios, em todos os lugares, graças a Deus!

O episódio não termina aqui. Quando a igreja em Jerusalém soube do ocorrido, levantou-se contra Pedro, com a prerrogativa de haver-se misturado com gente tão repelente e imunda, os gentios. Intima-o a retratar-se. O apóstolo então, cheio do Espírito Santo, apresenta-se diante da Igreja-Mãe em Jerusalém, e relata como Deus lhe mostrara, através de uma visão de animais em um lençol, que todas as pessoas, de toda tribo, raça e língua, desde que O tema e guarde Seus mandamentos, são dignas do amor, da Graça e da salvação pelo sacrifício eterno de Jesus.

E muito mais! Deus não somente revelou Seu amor pelos gentios como os agraciou com o derramamento do Espírito Santo (Leia Atos 11:1-17). Contra este argumento não houve reação, e, portanto, a posição da Igreja-Mãe não poderia ser diferente. Leiamos: “E ouvindo estas coisas, apaziguaram-se, e glorificaram a Deus, dizendo: Na verdade até aos gentios deu Deus o arrependimento para a vida”. (Atos 11:18)

Como vê, é simples, puro e cristalino. Não há aqui interpretação humana. Não há necessidade de torcer nada e muito menos adaptar-se a qualquer tipo de conveniência. É uma verdade clara que brota como luz da aurora no coração sincero. A Igreja de Jerusalém não mudou a Bíblia, mudou sim, sua posição em relação aos gentios pelo testemunho de Pedro, que por sua vez mudou sua opinião através do ensino de Deus por meio de um lençol de animais. Hoje, lamentavelmente ocorre o contrário. Muitos preferem mudar a Bíblia, ou quando nada, tentam adaptá-la à sua opinião. Que não seja esta sua atitude, meu querido irmão(ã).

Pois bem, fica determinado pela Bíblia, sem nenhuma dúvida, que Deus utilizou um lençol de animais puros e imundos para ensinar a Pedro, quando este estava com fome, que “nenhum homem é comum ou imundo” e “que Deus não faz acepção de pessoas”, pois todos de igual modo merecem a oportunidade de conhecer e viver o evangelho que restaura e salva.

A Igreja de Jerusalém foi humilde e sincera. Você também decidirá pela Verdade! Decisão envolve coragem! Você é forte, pois Cristo lhe dá poder. Deus estava levando você a sentir “FOME” pela salvação de todas as pessoas, de todas as raças, em todos os lugares do Planeta Terra! Essa visão tanto serviu para repreender a Pedro como para instruí-lo. Revelou-lhe o propósito divino – de que pela morte de Cristo os gentios deviam tornar-se coerdeiros dos judeus nas bênçãos da salvação. Até então nenhum dos discípulos pregara o evangelho aos gentios.

PENSE NISSO! CURIOSIDADE:

Em Atos – Disse Pedro: “…e também estes SEIS irmãos foram comigo, e entramos em casa daquele varão Cornélio”. (Atos 11: 12)

Ø  Na lei egípcia que os judeus conheciam bem, eram preciso SETE testemunhas para provar completamente um caso judicial ou qualquer outro.

Ø  Na lei romana também, e eram necessários SETE selos para autenticar um documento que fosse realmente importante como um testemunho.

Ø  Portanto, havia SETE testemunhas deste fato. Pedro + 6 = 7.

A questão dos alimentos limpos e imundos

Gênesis 9:1-3: “Abençoou Deus a Noé e a seus filhos, e disse-lhes: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a Terra. Terão medo e pavor de vós todo animal da Terra, toda ave do céu, tudo o que se move sobre a terra e todos os peixes do mar; nas vossas mãos são entregues. Tudo quanto se move e vive vos servirá de mantimento, bem como a erva verde; tudo vos tenho dado”.

A dificuldade que nos foi apresentada nas palavras divinas da passagem acima é facilmente superada quando se toma a Bíblia globalmente. O grande problema de algumas interpretações é sempre a segmentação indevida da Palavra de Deus, tomando-se versos, cláusulas ou até palavras isoladas para ajustarem-se a pressupostos e preconceitos, torcendo-se o sentido integral o pensamento do autor sagrado.

Por exemplo, o texto diz que todo animal da Terra teria “MEDO E PAVOR” do homem. Contudo, será que isso deve ser entendido em termos absolutos? O que dizer de ursos, onças, leões, hipopótamos, crocodilos, tubarões, dos quais os homens é que fogem, e com bons motivos? Certamente é um risco de vida enfrentar tais animais em seu estado natural.

Noé e sua família receberam uma bênção semelhante à pronunciada sobre Adão e Eva após sua criação (Gênesis 1:28). Assim como Adão havia sido o progenitor de todos os membros da raça humana, Noé chegava a ser o progenitor de todos os seres humanos depois do dilúvio. Em ambos os casos a bênção consistiu numa ordem divina de frutificar e encher a Terra.

No entanto, faltava uma parte da bênção prévia, a saber, a ordem de subjugar a Terra. Sem dúvida, esta omissão reflete o fato de que o domínio do mundo atribuído ao homem durante a criação se tinha perdido pelo pecado. O pecado tinha alterado a relação que originalmente existiu entre o homem e os animais, e estes, pelo menos até certo limite, ficavam fora do controle do homem. Já que o pecado, com suas consequências, tinha debilitado o vínculo de sujeição de parte dos animais à vontade do homem, de ali em adiante tão só pela força ele poderia reger sobre eles, mediante esse “medo” que Deus agora inculcou na criação animal. A natureza tinha ficado separada do homem.

Este pronunciamento divino. Ser-vos-á para manutenção. Não significava que o homem pela primeira vez tivesse começado a comer carne de animais, mas tão somente que Deus pela primeira vez o autorizava, ou melhor lhe permitia fazer o que o dilúvio tinha convertido numa necessidade. Os ímpios antediluvianos poderiam ser carnívoros, mas não foi a vontade original do Criador que suas criaturas se comessem entre si. Deus tinha dado ao homem plantas para comer: “E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento. (Gênesis 1: 29). Com a destruição de toda vida vegetal durante o dilúvio e com o esgotamento das reservas de alimentos que foram levados à arca, surgiu uma emergência a que Deus fez frente dando permissão para comer a carne de animais.

Esta permissão não implicava um consumo sem restrições e sem limites de toda classe de animais. A frase “tudo o que se move sobre a terra” exclui claramente o comer cadáveres de animais que tinham morrido ou tinham sido mortos por outras feras, o que mais tarde proibiu especificamente a lei mosaica (Êxodo. 22: 31; Levíticos. 22: 8). Ainda que aqui não se apresente a distinção entre animais limpos e imundos com respeito aos alimentos, isso não significa que a regra era desconhecida por Noé. Que Noé conhecia essa distinção resulta claro pela ordem prévia de levar mais animais limpos que imundos na arca (Gênesis. 7: 2), e porque Noé ofereceu tão-só animais limpos como holocausto? (Gênesis 8: 20).

A distinção deve ter sido tão perfeitamente conhecida pelos primeiros homens que foi desnecessário que Deus chamasse especialmente a atenção de Noé a ela. Tão-só quando esta distinção se tinha perdido através dos séculos de afastamento do homem de Deus, promulgaram-se novas instruções escritas acerca de animais limpos e imundos (Levíticos: 11; Deuteronômio 14). A imutabilidade do caráter de Deus (Tiago 1: 17) exclui a possibilidade de se interpretar esta passagem como uma permissão para sacrificar e comer qualquer animal. Os que eram imundos para um propósito não podiam ser limpos em outro.

Ervas. Isto envolve a novidade da permissão de comer carne, além de verduras e frutas que originalmente tinham sido destinadas como alimento para o homem. Não só foi pela ausência temporal de vida vegetal, como resultado do dilúvio, Deus permitindo que o homem complementasse seu regime vegetariano com carne, senão também possivelmente porque o dilúvio tinha mudado tão completamente a forma externa da Terra e tinha diminuído sua fertilidade ao ponto de que em algumas regiões, tais como as do extremo norte, não produziriam suficiente alimento vegetal para sustentar a raça humana.

Carne com sua vida. A proibição se aplica a comer carne com sangue, já fora de animais vivos como tinha sido o bárbaro costume de algumas tribos pagãs do passado, ou de animais sacrificados que não tivessem sido bem sangrados. Entre outras coisas, esta proibição era uma salvaguarda contra a crueldade e um recordativo do sacrifício de animais, nos quais o sangue, como portador da vida, era considerado sagrado.

Deus previu que o homem, ao cair como fácil vítima das crenças supersticiosas, pensaria que participando do líquido vital, sua própria vitalidade seria revigorada ou prolongada. Por estas razões, e provavelmente por outras que agora não parecem claras [como o fato de o sangue venoso ser carregado de toxinas maléficas], foi irrevogavelmente proibido comer carne com sangue. Os apóstolos consideraram que esta proibição ainda estava em vigência na era cristã. Chamaram a atenção disto especialmente aos crentes cristãos de origem gentílica, porque esses novos crentes, antes de sua conversão, tinham estado acostumados a comer carne com sangue (Atos 15: 20, 29).

Espero que esteja resolvida esta “dificuldade”, reflita sobre estas 10 questões abaixo?

1 – Por que Deus separou os animais em limpos e imundos já no episódio do dilúvio (Gênesis 7:2)? Teria Ele simplesmente “cismado” com certa classe de animais e instituído tais regras sem qualquer razão lógica e prática?

2 – Se a divisão referida visava só a sacrifícios, por que Deus mandou para a arca 3,5 vezes mais animais limpos do que imundos, quando nada indica que o número de sacrifícios fosse assim tão grande e frequente?

4 – Por que Deus só aceitava animais limpos para sacrifícios? (Coríntios 9:13).

5 – Sendo um princípio divino de que devemos glorificar a Deus com o que comemos e bebemos (1 Coríntios 10:31), como carnes imundas que seriam excluídas dos sacrifícios (já que certamente não serviriam a tal propósito) desde então poderiam servir para a glorificação de Deus?

6 – Por que também a restrição quanto ao consumo de sangue foi instituída quando Deus autorizou o consumo de carnes (Gênesis 9:4, 5)? Não devia prevalecer plena liberdade para o homem comer o que quisesse?

7 – Como prova que a ordem para Noé comer “tudo quanto se move” incluía os animais imundos, sendo que Noé já havia sido notificado da divisão entre animais limpos e imundos (Gênesis 7:2, 3), e até o modo como o verso está redigido deixa a clara impressão que tal divisão já era do seu conhecimento, não uma “novidade”?

8 – Como prova que a ordem para Noé comer “tudo quanto se move” incluía os animais imundos, sendo que mais tarde o mesmo autor do Gênesis, Moisés, explica em (Êxodo 22:31) o sentido de tal ordem como não se devendo comer “carne que por feras tenha sido despedaçada no campo”, ou seja, deviam comer só animais vivos, não os encontrados mortos?

9 – Qual era a vantagem para a humanidade em Deus deixar os homens se alimentarem livremente de toda espécie de animal, como ratos, urubus, macacos, cobras e lagartos, sendo que hoje se sabe que o consumo de alguns deles, acarreta doenças terríveis, febre ebola, e a praga bubônica que levou à morte milhões de pessoas na Europa durante a Idade Média, procedeu de ratos. Veja a China com a gripe suína e o COVID-19, e etc.

10 – Embora a ordem divina para Noé alimentar-se de animais se contraste com a ordem anterior para o homem se alimentar de ervas, onde é dito que ao Deus falar em “toda erva” sendo permitida para consumo do homem (Gênesis 9:3) ficam excluídas as que são venenosas para o ser humano?

Autor: Prof. Azenilto G. Brito, Ministério Sola Scriptura Bessemer, Ala., EUA

As leis alimentícias foram abolidas no Novo Testamento?

 

Segundo alguns teólogos, com a crucificação de Cristo foram anuladas as leis que Deus havia promulgado a respeito das carnes limpas e imundas. Para eles, sob a Nova Aliança os cristãos já não têm que guardar estas leis. Porém, o que é que a Bíblia diz realmente?

 

A mudança administrativa do ‘sacerdócio levítico’ ao ‘ministério de Jesus Cristo’ não invalidou as condições necessárias de que o Seu povo, obedeça às leis que Deus promulgou referentes às carnes limpas e imundas (tal como não invalidou qualquer outra lei) como parte da santificação e separação deles como povo de Deus (Levíticos 11:44-47; 19:2; 20:7, 22-26; 21:8). Os apóstolos Pedro e Paulo, continuaram insistindo na necessidade de que o povo de Deus fosse santo (Efésios 1:4; 1ª Pedro 1:14-16).

 

Alguns eruditos bíblicos reconhecem o fato de que os membros da igreja apostólica continuaram guardando a ordenança que proíbe o consumo de carnes imundas. Muitos creem, porém, que na Nova Aliança foi abolida grande parte da lei de Deus, e que as leis referentes às carnes limpas e imundas foram simplesmente costumes da cultura judaica que se mantiveram até que a igreja se compôs por uma maioria de gentios. Naturalmente, estas ideias preconcebidas têm influenciado a interpretação de muitas passagens bíblicas. Este processo é reconhecido em círculos teológicos como isagese (do grego eisegesis), o ato de inserir as nossas ideias próprias na Escritura.

 

Estudemos então as passagens do Novo Testamento que se referem aos alimentos. Conforme o faremos, não vamos praticar a isagese mas aliás vamos pôr em prática a exegese—o processo de extrair o significado das Escrituras—analisando objetivamente o contexto de cada uma poderemos esclarecer qual é sua aplicação para nós.

 

Uma controvérsia na igreja a respeito da alimentação

 

Ao ler o Novo Testamento nos apercebemos de que existiu uma controvérsia a respeito da alimentação. Se examinarmos cuidadosamente as Escrituras, podemos entender qual era na realidade o motivo do debate. Em 1 Coríntios 8 o apóstolo Paulo dá uma explicação “quanto ao comer das coisas sacrificadas aos ídolos” (versículo 4). Por que se discutia isto?

 

“Na época de Paulo, frequentemente a carne era sacrificada e oferecida nos altares pagãos como oferenda aos deuses. Mais tarde, essa mesma carne era vendida nos açougues públicos. Alguns cristãos se perguntavam se para eles era correto comer esta carne que havia sido previamente oferecida aos deuses pagãos” (Nelson’s New Illustrated Bible Dictionary [“Novo dicionário bíblico ilustrado de Nelson”], 1995, na secção “Meat”).

 

É interessante notar (ainda que não seja uma prova conclusiva) que em Atos 14:13, a única passagem em que se mencionam os animais que se sacrificavam aos ídolos, o animal sacrificado era um touro, um animal limpo.

Porém, o que se debatia não era o tipo de carne que se podia comer. Para os judeus crentes que seguiam as instruções de Deus nem sequer lhes passaria pela cabeça considerar como alimento a carne dos animais imundos. A controvérsia tinha a ver mais com a consciência de cada crente.

 

Ao dizer que era permitido consumir a carne de animais que tinham sido oferecidos aos ídolos, Paulo explicou “que o ídolo, de si mesmo, nada é no mundo” (1 Corinthians 8:4). O fato de que o animal tivesse sido oferecido a um deus pagão não afetava a carne em nada.

 

Paulo continuou dizendo: “Entretanto, não há esse conhecimento em todos; porque alguns, por efeito da familiaridade até agora com o ídolo, ainda comem dessas coisas como a ele sacrificadas; e a consciência destes, por ser fraca, vem a contaminar-se. Não é a comida que nos recomendará a Deus, pois nada perderemos, se não comermos, e nada ganharemos, se comermos(1 Corinthians 8:7-8).

 

Segundo Paulo, se um crente comprava a carne num açougue, ou se numa visita lhe fosse oferecida a carne, não era necessário averiguar se esta tinha sido oferecida aos ídolos (1 Corinthians 10:25-27). O que mais lhe preocupava era que se considerasse e respeitasse a quem tivesse uma crença diferente. Segundo suas instruções, nestes casos era preferível não comer carne para não servir de tropeço ao irmão (1 Corinthians 8:13; 10:28-29).

 

A controvérsia a respeito da carne sacrificada aos ídolos foi grande na época do Novo Testamento. Este é o núcleo de muitas das coisas que Paulo escreveu acerca da liberdade cristã. As Escrituras hebraicas não contêm referências sobre a carne oferecida a ídolos, mas têm instruções muito claras a respeito de quais carnes se podem comer e quais não. No Novo Testamento, no entanto, o assunto das carnes oferecidas aos ídolos era muito importante para alguns cristãos, segundo sua consciência e entendimento.

 

A cronologia das cartas de Paulo é importante

 

Um dado muito significativo que frequentemente passa despercebido é a relação cronológica que existe entre as cartas que Paulo escreveu aos Coríntios e aos Romanos. Alguns estão convencidos de que Romanos 14 apoia a ideia de que os cristãos já não estão obrigados a seguir as instruções bíblicas que proíbem o consumo de carnes imundas. A chave, segundo eles, é o versículo 14, onde o apóstolo diz: “Eu sei e estou persuadido, no Senhor Jesus, de que nenhuma coisa é de si mesma impura, salvo para aquele que assim a considera; para esse é impura” Romanos 14:14.

 

Entretanto, esta afirmação ignora por completo a perspectiva do autor e o contexto da epístola dirigida à congregação em Roma. Muitos eruditos da Bíblia concordam em situar a Primeira Epístola aos Coríntios ao redor do ano 55, e a Epístola aos Romanos, que foi escrita provavelmente desde Corinto, ao redor de 56 ou 57. Como o demonstramos anteriormente, a controvérsia em Corinto acerca da comida tinha a ver com a carne sacrificada aos ídolos. Seguramente, quando Paulo escreveu aos romanos desde Corinto tinha muito presente este tema, e isto é o que devemos ter em conta para analisar o capítulo 14 de Romanos.

 

Entendamos o propósito de Paulo

 

Aqueles que afirmam que o capítulo 14 de Romanos invalida a lei de Deus acerca das carnes limpas e imundas têm que tergiversar as Escrituras para poder justificar sua posição. O ensinamento que Paulo dá, como o capítulo mesmo o comprova, tem origem na carne sacrificada aos ídolos.

 

O versículo 2 estabelece o contraste entre o que “come legumes” e o que “crê que de tudo se pode comer” (isto é, carne e legumes). No versículo 6 se menciona o comer e o não comer, e há várias interpretações a respeito: a que se refere ao jejum (não comer nem beber em certos dias), a que se refere ao vegetarianismo (comer só legumes, verduras e frutas), ou a que se refere a comer ou não comer da carne sacrificada aos ídolos.

 

O versículo 21 nos comprova que o tema fundamental deste capítulo é a carne oferecida aos ídolos: “É bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa com que teu irmão venha a tropeçar”. No mundo romano era muito comum oferecer aos ídolos tanto carne como vinho. Destas oferendas, mais tarde se vendiam porções nos mercados.

 

Acerca do versículo 2, uma glosa na Life Application Bible (Bíblia de Aplicação na Vida) anota: O sistema antigo de sacrifício era o centro da vida religiosa, social e nacional do mundo romano. Depois que se apresentava o sacrifício a um deus num templo pagão, só se queimava uma parte dele. O que restava, frequentemente era enviado ao mercado para a venda. Assim facilmente, ainda sem disso se aperceber, um cristão podia comprar a dita carne no mercado ou comê-la na casa de um amigo.

 

O cristão deveria perguntar sobre a origem desta carne? Alguns pensaram que não havia nada mal em comer carne oferecida aos ídolos, já que estes eram deuses inúteis e falsos. Outros, para evitar uma consciência de culpa, com cuidado averiguavam a origem da carne ou simplesmente não a consumiam. O problema era particularmente sério para os cristãos que alguma vez tivessem adorado a ídolos. Para eles, tal lembrança nítida de seus dias pagãos podia debilitar sua nova fé. Paulo também tratou deste tema em 1 Coríntios 8.

 

Qual é o ensinamento fundamental que Paulo transmite em Romanos 14? Dependendo nas suas consciências, os crentes primitivos tinham várias opções quanto ao assunto, nas suas viagens, ou quando estivessem nas suas casas. Se não quisessem comer carne sacrificada a ídolos, podiam jejuar ou seguir um regime vegetariano, para terem a certeza que não comeriam alguma carne de origem suspeita que pudesse ofender a sua consciência. Se não tinham nenhum problema de consciência em comer carne oferecida a ídolos, eles poderiam escolher qualquer das opções. É dentro deste contexto que Paulo diz: “Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente” (Versículo 5, versão Revista e Atualizada de Almeida, SBB 1997), “e tudo o que não é de fé é pecado”. (Versículo 23).

 

De certa forma, Romanos 14 é o capítulo da liberdade cristã, porque acerca de carne sacrificada aos ídolos a pessoa atua dentro do marco da lei de Deus, mas é guiada por sua própria consciência. Se olharmos dentro deste contexto, o capítulo 14 de Romanos nem sequer insinua que se pode comer porco nem nenhuma outra carne imunda. Quando entendemos que no Novo Testamento a controvérsia sobre a comida girava em torno da carne sacrificada aos ídolos, e que não tinha absolutamente nada a ver com as leis bíblicas sobre as carnes limpas e as imundas, então outras passagens também ficam claras.

 

Debate sobre as lavagens rituais

 

Outra escritura que é frequentemente mal-entendida é a da discussão com os fariseus registrada em Marcos 7:1-23. Muitos consideram que Jesus anulou os estatutos dados em Levítico 11 e Deuteronômio 14 com respeito aos animais cuja carne é própria para o consumo humano. De fato, na maioria das traduções do Novo Testamento o versículo 19 conclui com esta frase: “E, assim considerou ele puros todos os alimentos” (versão Revista e Atualizada de Almeida, SBB 1997). Porém, está esta frase de acordo com o significado e propósito de toda a passagem? O que foi que Jesus disse, ou não disse, realmente?

 

Como já mencionámos, um dos princípios básicos para entender uma passagem bíblica é analisar o contexto em que se encontra. Entendamos, pois, de que se fala aqui.

 

Primeiro devemos ter em conta que o vocábulo grego “broma”, usado no versículo 19, significa simplesmente “comida”. Quando no Novo Testamento se fala especificamente da carne dos animais, o vocábulo que se emprega é kreas (Romanos 14:21; 1 Corinthians 8:13). Portanto, a passagem está relacionada de alguma forma com a comida em geral, não só com as carnes. Entretanto, se analisamos um pouco mais perceberemos que a verdadeira controvérsia nada tinha a ver com alimentos que se deviam ou não comer.

 

Os dois primeiros versículos nos ajudam a entender o contexto: “E reuniram-se em volta dele os fariseus e alguns dos escribas que tinham vindo de Jerusalém. E, vendo que alguns dos seus discípulos comiam pão com as mãos impuras, isto é, por lavar, os repreendiam” (Marcos 7:1-2). Então lhe perguntaram: “Por que não andam os teus discípulos conforme a tradição dos antigos, mas comem com as mãos por lavar?” (Versículo 5). Agora o assunto está um pouco mais claro. Refere-se ao comer “com mãos impuras”. Porque preocupava isso aos escribas e fariseus?

 

A Aliança que Deus fez com Israel no monte Sinai estava baseada em muitas leis e outros estatutos que tinham a ver com a pureza ritual. Porém, a prática judaica muitas vezes se apartava disto por seguir a ‘lei oral’ ou ‘tradição dos anciãos’, a qual consistia em muitos requisitos e proibições agregadas às leis de Deus por homens. Nos versículos 3-4 podemos ver uma breve explicação do costume específico a que os fariseus e escribas se estavam referindo: “Porque os fariseus e todos os judeus, conservando a tradição dos antigos, não comem sem lavar as mãos muitas vezes; e, quando voltam do mercado, se não se lavarem, não comem. E muitas outras coisas há que receberam para observar, como lavar os copos, e os jarros, e os vasos de metal, e as camas” (Marcos 7:3-4).

 

Observemos que aqui não se menciona nenhuma lei alimentícia. O assunto era a pureza ritual baseada nas tradições da lei oral. Os discípulos estavam sendo criticados por não cumprir com a cerimónia de lavagem de mãos ordenada, por essas veneradas tradições religiosas. O Comentário judeu do Novo Testamento (Jewish New Testament Commentary) por David Stern, 1995, p. 92, explica-nos a razão do costume que era praticado nessa era: “Nestes versículos (Marcos 7:3-4) dá uma explicação de um … rito de lavagem de mãos que corresponde aos pormenores dados no tratado Yadayim da Misná [a Misná é uma versão escrita da tradição oral].

 

No mercado a pessoa podia tocar coisas cerimonialmente impuras; a impureza era eliminada se enxaguando até ao pulso. Ainda hoje os judeus ortodoxos praticam [a lavagem ritual de mãos] antes das refeições. A razão disto não tem nada a ver com a higiene, pois está baseada na ideia de que o lar de alguém é seu templo e a mesa é seu altar, a comida é seu sacrifício e a pessoa mesma é o sacerdote. Devido a que o [Antigo Testamento] exige que os [sacerdotes] estejam cerimonialmente puros antes de oferecer sacrifícios no altar, a [lei] oral exige o mesmo antes de comer. Já na época de Jesus, para muitos judeus era muito importante praticar esses ritos tradicionais e, se em algumas ocasiões se descuidavam deles, era como que se violassem os princípios básicos da lei de Deus (Mateus 23:1-4, 23-28).

 

A purificação espiritual

 

Depois de censurar a hipocrisia destas e outras tradições religiosas de sua época, Jesus chegou ao cerne do assunto. O que explicou demonstra que é muito mais importante cuidar do que sai do coração do que o que se põe na boca (Marcos 7:15), e depois agregou: “Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfémia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem” (Marcos 7:21-23).

 

Em Gálatas 5:19-21 são mencionadas várias destas características negativas como “obras da carne” que são todas o contrário do que é “o fruto do Espírito”, que é “amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança” (Gálatas 5:22-23). Este fruto é o produto de um coração espiritualmente puro.

 

Os ritos de lavagem e purificação da Antiga Aliança eram representações físicas da purificação espiritual que se viria a oferecer na Nova Aliança (Hebreus 9:11-14). Por isso o apóstolo Paulo escreveu que Jesus “se deu a si mesmo por nós, para nos remir de toda iniquidade e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras” (Tito 2:14). Um dos ensinamentos básicos de Jesus Cristo é: “bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus” (Mateus 5:8).

 

As mãos ou o coração?

 

Em Marcos 7 Jesus explicou que a lavagem de mãos não é necessária para a pureza ou saúde espiritual. “E ele disse-lhes: Assim também vós estais sem entendimento? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar, porque não entra no seu coração, mas no ventre e é lançado fora” (Versículos 18-19).

 

Por outras palavras, o que Jesus disse é que qualquer partícula de sujidade que não pudesse ser eliminada por meio da minuciosa lavagem ritual de mãos seria eliminada através dos aparelhos digestivo e excretor, e não teria efeito algum sobre a verdadeira pureza da pessoa (sua mente ou coração). Devido a que a pureza espiritual tem a ver com o coração as lavagens cerimoniais não são necessárias, nem podem evitar a contaminação espiritual.

 

Numa nota sobre o versículo 19, o já citado comentário judeu de David Stern resume bem o significado global desta passagem: Jesus “não ab-rogou, como muitos supõem, as leis de kashrut [kosher, termo que significa “adequado, próprio”], tornando assim limpo o presunto! Desde o princípio do capítulo, o assunto tem sido a pureza ritual … e de modo algum as leis alimentícias! Neste versículo não existe nem a mais remota insinuação de que as comidas aqui mencionadas se refiram a algo diferente do que a Bíblia permite comer… ou seja, comida kosher (adequada) …

 

“Portanto, [Jesus] continua seu discurso acerca da prioridade espiritual (versículos 6-13). Ensina que [a pureza] não é primeiramente ritual ou física, mas espiritual (versículos 14-23). Em tudo isto ele não descarta completamente as ampliações farisaico-rabínicas das leis de pureza, mas as considera de menor importância” (Stern, op. cit., p. 93).

 

Que podemos dizer, então, de Marcos 7:19? Na última parte do versículo lemos o seguinte: “E, assim, considerou ele puros todos os alimentos” (tradução de Almeida Revista e Atualizada [ARA], SBB 1993). Entretanto, na tradução de Almeida Revista e Corrigida [ARC], SBB 1995, e na tradução de Almeida Corrigida e Fiel [ACF], SBTB 1997, a última parte do versículo 19 se traduz desta maneira: “ficando puras todas as comidas”.

 

Este versículo é especialmente interessante, porque há neste caso um erro de tradução na versão Atualizada [ARA], e isto serve para ilustrar o fato de que é muito importante ler o contexto e, ademais, comparar diferentes traduções da Bíblia. Neste caso, o contexto contém a chave para entender o verdadeiro significado da passagem e também para determinar qual é a tradução mais acertada.

 

O significado claro do versículo 19, tal como aparece nas traduções Corrigidas [ARC e ACF], é que mediante os aparelhos digestivo e excretor o corpo assimila os alimentos e elimina as partículas de pó que pode haver neles. Porém, é correta esta tradução?

 

Se levarmos em consideração o meio cultural do povo judeu, no qual só se consumiam as carnes limpas (segundo Levítico 11 e Deuteronômio 14), e se considerarmos que o que se estava discutindo nesta passagem era a necessidade de lavar as mãos de certo modo antes de comer, torna-se óbvio que as traduções Corrigidas [ARC e ACF] são as que se encaixam perfeitamente com o contexto. Convém mencionar também que as palavras “E, assim, considerou ele” na tradução Atualizada [ARA], referindo-se a Jesus, não aparecem nos manuscritos originais gregos, mas que foram agregadas pelos tradutores, talvez numa tentativa para interpretar o pensamento de Marcos.

 

Além de analisar o contexto, outra chave para entender corretamente um versículo da Bíblia é examinar outras passagens relacionadas com o tema que se está estudando. Neste caso temos a vantagem de que em Mateus 15 é mencionado o mesmo incidente e se esclarece ainda mais o assunto. Jesus disse: “Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfémias. São essas coisas que contaminam o homem; mas comer sem lavar as mãos, isso não contamina o homem” (Mateus 15:19-20).

 

O facto é que em nenhuma passagem do Novo Testamento se encontra o caso de algum cristão ter comido carne considerada imunda; na Bíblia simplesmente não existe nada parecido. Pelo contrário, encontramos passagens nas quais o apóstolo Paulo nos exorta a guardar todas as leis de Deus (Atos 24:14; 25:8; Romanos 3:31; 7:12, 22). Assim também fazem Tiago, meio irmão de Jesus, e João (1 João 3:4). Violar as leis alimentícias de Deus teria sido simplesmente inimaginável para eles.

 

A controvérsia em Colossenses

 

Com base no que Paulo escreveu em Colossenses 2:16: “Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados (tradução Atualizada, ARA) alguns afirmam que os cristãos de Colosso comiam porco e outros tipos de carne que anteriormente era considerada imunda. Porém, a Bíblia não oferece respaldo para esta conclusão.

 

De fato, esta passagem nada tem a ver com o tema das carnes limpas e imundas; Paulo não se referia a tipos de carnes que os Colossenses estavam consumindo, as palavras gregas traduzidas como “comida” e “bebida” neste versículo significam “comer e beber”. Por conseguinte, o assunto era o fato de comer ou beber, não o tipo de carnes que eram consumidas pelos Colossenses. Aqui também as traduções Corrigidas [ARC e ACF] estão mais corretas.

 

Ainda que muitos suponham que esta advertência de Paulo é uma crítica contra quem ensinava a validez de algumas práticas do Antigo Testamento (tais como cumprir a lei e praticar a circuncisão), não há provas disso. Entretanto, devemos reconhecer que naquela época, tanto no judaísmo como na igreja apostólica, não faltavam as controvérsias dos ensinamentos e práticas bíblicas. “Estes falsos ensinamentos iam muito mais além do judaísmo. Seus mestres acreditavam nos intermediários espirituais, ou seja, anjos que eles adoravam, e insistiam num ascetismo muito rígido” (International Standard Bible Encyclopaedia [Enciclopédia Internacional Geral da Bíblia], edição de 1939, “Epístola aos Colossenses”).

 

O falso ensinamento condenado por Paulo tinha muitos elementos do ascetismo – filosofia segundo a qual era pecaminoso tudo o que produzisse prazer com a intenção de fazer os seus seguidores mais espirituais. Notemos o que foi escrito aos Colossenses: “Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum, senão para a satisfação da carne” (Colossenses 2:20-23).

 

Esta passagem mostra vários aspectos ascéticos do erro que Paulo estava atacando. Em sua desencaminhada, para serem mais espirituais, os falsos mestres adoptavam uma “disciplina do corpo” (versículo 23). O apóstolo resumiu as rígidas normas ascéticas com estas frases: “Não toques, não proves, não manuseies” (versículo 21). Estas práticas não podiam conseguir nada verdadeiro porque estavam baseadas em “preceitos e doutrinas dos homens” (versículo 22), não nas instruções de Deus.

 

Paulo admoestou aos cristãos de Colosso para que não dessem ouvidos a estes mestres do ascetismo. Em vez de abolir as normas alimentícias de Deus (que é o que alguns supõem que esta passagem significa), Paulo disse aos Colossenses que não se preocupassem pelo que diziam os mestres do ascetismo que os criticavam pela forma como guardavam os sábados e as demais festas bíblicas. Para os ascetas, as observâncias cristãs cheias de alegria e deleite eram censuráveis, mas aos olhos de Deus não tinham nada de mal.

 

O capítulo 2 de Colossenses foi mais uma exortação à Igreja para que não abandonasse o ensinamento sadio e as práticas corretas. Esta passagem não é nenhum tratado acerca de quais são as carnes que devemos comer e quais são os dias em que devemos adorar a Deus. É muito importante que ao estudar esta e outras passagens, deixemos de lado as ideias preconcebidas.

 

As instruções a Timóteo

 

Outra passagem que com frequência se interpreta erradamente é a de 1 Timóteo 4:3-5, onde o apóstolo Paulo escreveu sobre os ensinamentos de certo tipo de falsos mestres: “proibindo o casamento e ordenando a abstinência dos manjares [alimentos] que Deus criou para os fiéis e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças; porque toda criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças, porque, pela palavra de Deus e pela oração, é santificada.”

 

O que pretendiam estes falsos mestres? Por acaso Paulo estava advertindo a Timóteo acerca de mestres “judaizantes” que exigiam a obediência às leis alimentícias de Deus? Ou, se tratava de algo muito diferente?

 

Atentemos para um detalhe muito significativo. Paulo disse a Timóteo que “toda a Escritura [o que agora se conhece como o Antigo Testamento] divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça” (2 Timóteo 3:16). Como se pode afirmar, então, que Paulo estava dizendo a Timóteo, que não se importasse com as instruções que se encontravam nessas mesmas Escrituras?

 

As próprias palavras de Paulo nos esclarecem qual era realmente a situação: havia mestres que estavam exigindo às pessoas coisas que Deus não havia ordenado. Eles proibiam casar-se, algo que na Bíblia não só não aparece, mas se recomenda exatamente o contrário; aos olhos de Deus, o matrimonio é algo muito positivo. Além disso, os falsos mestres mandavam “a abstinência dos alimentos que Deus criou para os fiéis e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças” (ACF).

 

Na Life Application Bible (Bíblia de Aplicação na Vida) encontramos uma explicação acerca do erro que Paulo estava tratando aqui: O perigo que Timóteo enfrentou em Éfeso parece ter vindo de certas pessoas na igreja que seguiam a alguns filósofos gregos que ensinavam que o corpo é mau e que só o Espírito importava. Os falsos mestres recusavam crer que o Deus da criação era bom, porque seu simples contato com o mundo físico o teria manchado … [Os falsos mestres] estabeleciam normas estritas (como proibir ao povo que se casasse ou que comesse certos alimentos). Isto os fazia parecer muito disciplinados e justos.

 

Em 1 Timóteo 4:1, Paulo esclarece a verdadeira origem destas heresias; em lugar de ter sua origem na Bíblia, provinha de “espíritos enganadores” e eram “doutrinas de demónios”. Podemos ver que o problema tratado nesta passagem tinha a ver com um ascetismo mundano e pervertido (aqueles com uma filosofia de mortificação da ‘carne’, porque o que é físico é maldoso), e não com a obediência às normas alimentícias de Deus.

 

Paulo escreveu isto “para os fiéis e para os que conhecem a verdade” (1 Timóteo 4:3), porque deduzia que esses tinham conhecimento das Escrituras que identificavam quais carnes tinham sido “santificadas [separadas, apartadas]” para nossa alimentação e deleite “pela palavra de Deus e pela oração” (1 Timóteo 4:5). Ele exortou a Timóteo para que em vez de se deixarem levar pelo que ensinavam estes mestres do ascetismo, tivessem as Escrituras como base e ponto de referência em tudo.

 

Assim como Paulo desmascarou o ascetismo em Colosso, também alertou a Timóteo acerca da mesma falsidade. Em nenhuma das duas passagens se tratava das instruções de Deus a respeito dos alimentos.

Vejamos o panorama completo

 

Como temos visto, não há nenhuma prova bíblica para supor que sob a Nova Aliança os cristãos da Igreja apostólica deixaram de obedecer às leis de Deus, com respeito às carnes limpas e imundas. Em contrapartida, o que encontramos são as palavras claras e inequívocas de um dos apóstolos que, duas décadas depois da morte e ressurreição de Jesus Cristo, declarou: “De modo nenhum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma comum e imunda” (Atos 10:14).

 

Podemos encontrar na Bíblia alguma referência acerca da vigência e da aplicação destas leis? Deixemos o presente por um momento e desloquemo-nos até o momento em que Cristo regressará à terra para estabelecer o Reino de Deus. Quando entendemos a vontade de Deus para o futuro podemos ter mais certeza sobre o que devemos fazer no presente.

 

O último livro da Bíblia, ao referir-se aos acontecimentos finais que nos conduzirão ao regresso de Cristo, regista esta frase: “esconderijo de toda ave imunda e odiável” (Apocalipse 18:2, ACF). Se os conceitos de limpo e imundo já não têm nenhuma validade, porque foi que Jesus inspirou a João esta expressão? Será porque Ele e Deus não mudam? (Malaquias 3:6; 4:4; Hebreus 13:8; Mateus 5:17-19). Os animais que Deus classificou como imundos há milhares de anos, ainda serão imundos no futuro.

 

Noutra passagem que fala acerca do tempo do regresso de Cristo, encontramos o seguinte: “Porque eis que o Senhor virá em fogo; e os seus carros, como um torvelinho, para tornar a sua ira em furor e a sua repreensão, em chamas de fogo. Porque, com fogo e com a sua espada, entrará o Senhor em juízo com toda a carne; e os mortos do Senhor serão multiplicados. Os que se santificam e se purificam nos jardins uns após outros, os que comem carne de porco, e a abominação, e o rato juntamente serão consumidos, diz o Senhor”. (Isaías 66:15-17). Aqui vemos que no regresso de Cristo será proibido o consumo de coisas imundas, e quem desobedecer receberá castigo.

 

É muito claro o que diz a Bíblia: a diferença entre as carnes limpas e imundas tem existido desde muito antes que foi escrito o Novo Testamento; os apóstolos e os primeiros membros da Igreja de Deus seguiram estas instruções e atualmente também as praticam, pois são “os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus Cristo” (Apocalipse 12:17).

 

Como temos visto, estas leis continuarão vigentes até ao regresso de Cristo, e quando ele vier fará com que sejam cumpridas. No primeiro século muitos cristãos tiveram que lutar com a objecção de consciência que sentiam a respeito da carne que havia sido sacrificada aos ídolos, a Bíblia nos mostra que também obedeciam às leis de Deus sobre as carnes limpas e imundas. Não devemos nós obedecê-las também?

 

Deus formulou e revelou suas leis para nosso bem. “O exercício espiritual tem valor para tudo porque o seu resultado é a vida, tanto agora como no futuro” (1 Timóteo 4:8).

 

Versos bíblicos que falam da carne de porco:

O porco também é impuro; embora tenha casco fendido, não rumina. Vocês não poderão comer a carne desses animais nem tocar em seus cadáveres”. Deuteronômio 14:8

"Os que se consagram para entrar nos jardins indo atrás do sacerdote que está no meio, comem carne de porco, ratos e outras coisas repugnantes, todos eles perecerão", declara o Senhor. Isaías 66:17

“Estendi as minhas mãos o dia todo a um povo rebelde, que anda por caminho, que não é bom, após os seus pensamentos; Povo que de contínuo me irrita diante da minha face, sacrificando em jardins e queimando incenso sobre altares de tijolos; Que habita entre as sepulturas, e passa as noites junto aos lugares secretos; come carne de porco e tem caldo de coisas abomináveis nos seus vasos”. Isaías 65:2-4

“E Jesus logo lho permitiu. E, saindo aqueles espíritos imundos, entraram nos porcos; e a manada se precipitou por um despenhadeiro no mar (eram quase dois mil), e afogaram-se no mar”. Marcos 5:13

“Também o porco, porque tem unhas fendidas, e a fenda das unhas se divide em duas, mas não rumina; este vos será imundo”. Levítico 11:7

“A meu povo ensinarão a distinguir entre o santo e o profano e o farão discernir entre o imundo e o limpo. Ezequiel 44:23

“Por causa das águas do dilúvio, entrou Noé na arca, ele com seus filhos, sua mulher e as mulheres de seus filhos. Dos animais limpos, e dos animais imundos, e das aves, e de todo réptil sobre a terra, entraram para Noé, na arca, de dois em dois, macho e fêmea, como Deus lhe ordenara”. Gênesis 7:7-9

“O que imola um boi é como o que comete homicídio; o que sacrifica um cordeiro, como o que quebra o pescoço a um cão; o que oferece uma oblação, como o que oferece sangue de porco; o que queima incenso, como o que bendiz a um ídolo. Como estes escolheram os seus próprios caminhos, e a sua alma se deleita nas suas abominações”. Isaías 66:3

“Então, disse eu: ah! Senhor Deus! Eis que a minha alma não foi contaminada, pois, desde a minha mocidade até agora, nunca comi animal morto de si mesmo nem dilacerado por feras, nem carne abominável entrou na minha boca”. Ezequiel 4:14

 

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