6º Romanos 14.
“Quem
és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio senhor está em pé ou cai;
mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para sustê-lo. Um faz diferença
entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem
definida em sua própria mente. Quem distingue entre dia e dia para o Senhor o
faz; e quem come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come
para o Senhor não come e dá graças a Deus”. (Romanos 14:4-6)
“Um
crê que de tudo pode comer, mas o débil come legumes”. (Romanos 14:2).
“Débil na fé – Isto é, aquele que não tem
senão uma limitada compreensão dos princípios da justiça”. Nele está o desejo
de ser salvo e ansioso para cumprir o que quer que dele seja exigido.
“Porém,
na imaturidade da sua experiência cristã e provavelmente também como resultado
da primitiva educação e crença tenta obter a sua salvação mais seguramente pela
observância de certas regras e regulamentos que na realidade não são
obrigatórios. Para ele, estes regulamentos revestem-se de grande importância.
Ele os considera como absolutamente obrigatórios para a sua salvação, e
torna-se agoniado e confundido quando vê outros cristãos ao seu redor,
especialmente os que parecem mais experientes, não participarem de seus
escrúpulos. (ver Hebreus 5:11 a 6:2),
“Do
qual muito temos que dizer, de difícil interpretação; porquanto vos fizestes
negligentes para ouvir”. (Hebreus 5:11) “E da doutrina dos batismos, e da
imposição das mãos, e da ressurreição dos mortos, e do juízo eterno”. (Hebreus
6:2)
“A
declaração de Paulo em Romanos 14 tem sido interpretada de várias formas, e tem
sido usada por alguns: (1) para depreciar uma dieta vegetariana, (2) abolir a
distinção entre alimentos puros e impuros, e (3) remover toda distinção entre
dias, abolindo dessa forma, o sábado do 7o dia. Que Paulo não está fazendo
nenhuma destas coisas torna-se evidente quanto este capítulo é estudado á luz
de certo problemas religiosos referidos que perturbaram alguns cristãos do
primeiro século.
“Paulo
menciona vários problemas que são uma ocasião de mal entendido entre os irmãos:
(1) problemas relativos á dieta (verso 2), e (2) problemas concernentes á
observância de certos dias (versos 5, 6). Em I Coríntios 8 o problema do irmão
forte versus irmão débil, considerando a dieta, também é tratado. A carta aos
Coríntios foi escrita menos de um ano antes da enviada aos Romanos. Parece
razoável concluir que em I Coríntios 8 e Romanos 14 Paulo está tratando em
essência do mesmo problema. Em Coríntios o problema é identificado quanto a ser
próprio o comer de alimentos sacrificados aos ídolos. Segundo a antiga prática
pagã, os sacerdotes praticavam um intenso mercado de animais oferecidos aos
ídolos. Paulo dissera aos crentes de Corinto conversos do judaísmo e do
paganismo que desde que era um ídolo, nada havia de errado em si, no comer
alimentos dedicados a ele. Contundo, explica, por causa da herança em instrução
primitiva e diversidade no discernimento espiritual, nem todos possuíam este
“conhecimento” e não podiam com a consciência livre, comer de tais alimentos...
Daí, Paulo insta com aqueles sem escrúpulos quanto á consideração desses
alimentos, a não colocarem pedra de tropeço no caminho dos irmãos pelo consumo
destes alimentos (Romanos 14:3). Sua admoestação encontra-se dessa forma em
harmonia com a decisão do Concílio de Jerusalém, e sem dúvida lança luz, sobre
pelo menos uma razão por que o concílio tomou posição sobre este
assunto...Provavelmente por temor de ofender neste assunto, alguns cristãos abstêm-se
inteiramente de alimentos cárneos, o que significa que o seu alimento era
restrito a “ervas”, isto é, vegetais (Romanos 14:2).
“Paulo
não está falando de alimentos higienicamente prejudiciais. Não está sugerindo
que os cristãos de fé vigorosa possam comer qualquer coisa, desconsiderando os
seus efeitos sobre o bem estar físico. Paulo já tem deixado claro no capítulo
12:1 que o verdadeiro crente compreenderá que o seu corpo dever ser preservado
santo e aceitável a Deus como sacrifico vivo. O Homem de fé robusta considerará
como ato de adoração espiritual, manter boa saúde (Romanos 12:1 e I Coríntios
10:31).
“Um
fato adicional lança luz sobre os problemas que Paulo está discutindo. Apenas
muito palidamente, a princípio, os judeus cristãos compreenderam que a lei
cerimonial encontra os seus cumprimentos em Cristo... e que esta daí por diante
não mais era válida. Em verdade, os primeiros Cristãos não foram chamados
abruptamente a cessar o serviço das festas anuais judaicas ou repudiar os ritos
cerimoniais de uma vez por todas. Sob a lei cerimonial os judeus deviam guardar
7 sábados anuais. Paulo mesmo observou várias festas após a sua conversão (Atos
18:21, etc). Embora pensasse que a circuncisão nada era (I Coríntios 7:19),
tinha consigo o circuncidado Timóteo (Atos 16:3) e concordara em cumprir um
voto segundo as estipulações do código antigo (Atos 21:20-27). Sob tais
circunstâncias parecia melhor permitir que os vários elementos da lei
cerimonial da lei judaica gradualmente viessem a desaparecer a medida que a
mente e a consciência se iam iluminando. Dessa maneira, era inevitável que
entre os judeus cristãos surgisse a questão quanto á conveniência de observar
certos “dias” – dias santos judaicos, em conexão com as suas festas anuais (Ver
Levíticos 23:1-44).
“Em
vista destes fatos, torna-se evidente que Paulo, em Romanos 14, não está: (1)
depreciando a dieta de “ervas” (vegetais), ou (2) indo de encontro á antiga
distinção bíblica entre – alimentos puros e impuros, ou (3) abolindo o sétimo
dia, o sábado da lei moral... O que pretenda afirmar que assim foi, deve estar
vendo no argumento de Paulo algo o que aí não existe.
“Que
Paulo não ensina ou mesmo de a entender a abolição do sábado do sétimo dia tem
sido reconhecido por comentaristas tais como: Janieson, Fausset e Brown em seus
comentários sobre o cap. 14:5 e 6: "Dessa passagem sobre a observância de
dias, Alford infelizmente infere que tal linguagem não podia ter sido usada se
a sábado-lei não estivesse forçando o evangelho de qualquer maneira. Certamente
não podia, se o sábado fosse meramente um dos dias de festas judaicas; porém,
tal não acontecerá pois não foi outorgado meramente porque fora observado sob,
a economia judaica. E certamente se o sábado era mais antigo que o judaísmo; se
mesmo sobre o judaísmo foi guardado como relíquia entre a terna santidade do
decálogo, proferido, com nenhumas outras porções do judaísmo o foram, em meio,
aos terrores do Sinai; e se o próprio Legislador disse quando na terra “O Filho
do homem ´se Senhor até do sábado” (Marcos 2:28). Será difícil mostrar que o
apóstolo significasse que o mesmo devia ser colocado pelos seus leitores entre
aqueles desaparecidos dias de festa judaicas, e que só um “débil” poderia
imaginar estarem ainda em vigor, uma debilidade que os que tinham mais luz deviam,
apenas por amor, suportar.
“Em
Romanos 14: a 15:14 Paulo insta com os cristãos mais fortes para dar simpática
consideração aos problemas de seus irmãos mais fracos. Como nos capítulos 12 e
13, ele mostra que a fonte da unidade e paz na igreja é o amor cristão genuíno.
Este mesmo amor e respeito mútuo assegurará harmonia contínua entre o corpo de
crentes, a despeito das opiniões e escrúpulos diferentes em assuntos de
religião”[9].
“Paulo
não diz que todos os dias são iguais. A palavra iguais está em itálico (Versão
Almeida Revista e Corrigida), porque não se encontra no original grego e foi
acrescentada por Almeida.
O
dia aí mencionado não é o dia de repouso semanal, porque o mesmo apóstolo, em
sua epístola aos Colossenses (2:16), tratando do mesmo assunto (pois o mesmo
problema surgira naquela igreja) nos esclarece que são “dias de festa”. E em
Gál. 3:10, abordando o mesmo problema, Paulo menciona “dias, e meses, e tempos
e anos” (grifo nosso). Quer dizer que eram dias de festa, os feriados anuais e
mensais, como:
Páscoa
– Pentecostes – Dia da Expiação – Luas Novas – Tabernáculos – Jubileu regulados
pela lei cerimonial. Por quê? Porque embora abolidos na cruz, esses dias, os
judeus neófitos na fé, recém-convertidos (judaizantes) não se desvencilharam
deles de pronto; queriam observa-los e ainda julgavam os cristãos vindos do
gentilismo por não os observarem. Diz o comentarista Adão Clark: “A referência
aí feita [à palavra dia] se prende a instituições judaicas, e especialmente a
seus festivais, tais como a páscoa, pentecostes, festa dos tabernáculos, lua
nova, jubileu, etc... Os gentios convertidos... consideravam... que todos esses
festivais não obrigam o cristão. Nós os tradutores acrescentamos a palavra
iguais, e fazemos texto dizer o que, estou
certo, jamais foi pretendido, isto é, que não há distinção de dias, nem mesmo
do sábado.” (Clark’s Commentary, Rom. 14:5)
Também
os fundamentalistas Jamieson, Fausset e Brown comentam: “… será difícil mostrar
que o apóstolo tenha rebaixado o sábado de maneira a ser classificado por seus
leitores entre as transitórias festas judaicas...”.
Em
parte algumas dos ensinos de Paulo, o sétimo dia do decálogo é assunto de
controvérsia.”[10]
“Não
destruas a obra de Deus por causa da comida. Todas as coisas, na verdade, são
limpas, mas é mau para o homem o comer com escândalo. É bom não comer carne,
nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa com que teu irmão venha a
tropeçar ou se ofender ou se enfraquecer”. (Romanos 14:20-21).
Após
as considerações anteriores, podemos ter mais luz para entender este verso.
Paulo está dizendo para os Corintos não destruírem a obra de Deus por causa do
comer ou não carnes sacrificadas aos ídolos. O ídolo nada é.
Ao
dizer que “todas as coisas são limpas”, Paulo está se referindo ás “carnes
sacrificadas a ídolos”; não está usando o termo genericamente, pois se o
fizesse, teríamos de supor que até cobras, lagartos, cachorro, são limpos para
alimentação.
Paulo
falou que “é bom não comer carne e nem beber vinho” porque estes eram
evidentemente os objetos principais dos escrúpulos religiosos do irmão mais
fraco, provavelmente porque eram costumeiramente usados nos sacrifícios aos
ídolos pagãos.
Conclusão:
1º
Romanos 14 trata em essência do mesmo assunto de I Coríntios 8: Carnes
sacrificadas a ídolos. Podemos facilmente perceber isto através da comparação
dos dois livros:
2º
“Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria
no Espírito Santo”. (Romanos 14:17).
3º
“Não é a comida que nos recomendará a Deus, pois nada perderemos, se não
comermos, e nada ganharemos, se comermos”. (1 Coríntios 8:8).
4º
Podemos ver que em Romanos 14 está sendo tratado sobre o mesmo assunto, que diz
respeito ás carnes sacrificadas a ídolos. O versos 17 não está dando
autorização para usarmos alimentos imundos, pois neste é este o objetivo do
livro.
5º
Outro fator que leva-nos a concluir que o assunto é o mesmo nos dois livros, é
o fato da epístola aos Coríntios ter sido escrita menos de um ano antes da de
Romanos. Chega-se á inevitável conclusão de que falam do mesmo assunto.
6º
Lembremos de que o próprio Paulo disse: “Portanto, quer comais, quer bebais ou
façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”. (I Coríntios
10:31).
7º
Os versos 4 e 5 referem-se aos dias de festividades judaicos, que eram chamados
de ‘sábados cerimoniais’, sábados estes que eram diferentes do sábado do
Senhor, abençoado e santificado na criação do mundo. (Leia Levíticos 23:38;
Levíticos 23:3 e 24-25).
“Desvenda
os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei”. (Salmos 119:18).
Deus
lhe guarde,
Leandro
Soares de Quadros.
Setor
de Respostas Teológicas.
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