domingo, 28 de setembro de 2014

TEXTOS DA BÍBLIA DE DIFICIL INTERPRETAÇÃO PARTE III



6º Romanos 14.

“Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio senhor está em pé ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para sustê-lo. Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente. Quem distingue entre dia e dia para o Senhor o faz; e quem come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come para o Senhor não come e dá graças a Deus”. (Romanos 14:4-6)

“Um crê que de tudo pode comer, mas o débil come legumes”. (Romanos 14:2).
 “Débil na fé – Isto é, aquele que não tem senão uma limitada compreensão dos princípios da justiça”. Nele está o desejo de ser salvo e ansioso para cumprir o que quer que dele seja exigido.

“Porém, na imaturidade da sua experiência cristã e provavelmente também como resultado da primitiva educação e crença tenta obter a sua salvação mais seguramente pela observância de certas regras e regulamentos que na realidade não são obrigatórios. Para ele, estes regulamentos revestem-se de grande importância. Ele os considera como absolutamente obrigatórios para a sua salvação, e torna-se agoniado e confundido quando vê outros cristãos ao seu redor, especialmente os que parecem mais experientes, não participarem de seus escrúpulos. (ver Hebreus 5:11 a 6:2),

“Do qual muito temos que dizer, de difícil interpretação; porquanto vos fizestes negligentes para ouvir”. (Hebreus 5:11) “E da doutrina dos batismos, e da imposição das mãos, e da ressurreição dos mortos, e do juízo eterno”. (Hebreus 6:2)

“A declaração de Paulo em Romanos 14 tem sido interpretada de várias formas, e tem sido usada por alguns: (1) para depreciar uma dieta vegetariana, (2) abolir a distinção entre alimentos puros e impuros, e (3) remover toda distinção entre dias, abolindo dessa forma, o sábado do 7o dia. Que Paulo não está fazendo nenhuma destas coisas torna-se evidente quanto este capítulo é estudado á luz de certo problemas religiosos referidos que perturbaram alguns cristãos do primeiro século.

“Paulo menciona vários problemas que são uma ocasião de mal entendido entre os irmãos: (1) problemas relativos á dieta (verso 2), e (2) problemas concernentes á observância de certos dias (versos 5, 6). Em I Coríntios 8 o problema do irmão forte versus irmão débil, considerando a dieta, também é tratado. A carta aos Coríntios foi escrita menos de um ano antes da enviada aos Romanos. Parece razoável concluir que em I Coríntios 8 e Romanos 14 Paulo está tratando em essência do mesmo problema. Em Coríntios o problema é identificado quanto a ser próprio o comer de alimentos sacrificados aos ídolos. Segundo a antiga prática pagã, os sacerdotes praticavam um intenso mercado de animais oferecidos aos ídolos. Paulo dissera aos crentes de Corinto conversos do judaísmo e do paganismo que desde que era um ídolo, nada havia de errado em si, no comer alimentos dedicados a ele. Contundo, explica, por causa da herança em instrução primitiva e diversidade no discernimento espiritual, nem todos possuíam este “conhecimento” e não podiam com a consciência livre, comer de tais alimentos... Daí, Paulo insta com aqueles sem escrúpulos quanto á consideração desses alimentos, a não colocarem pedra de tropeço no caminho dos irmãos pelo consumo destes alimentos (Romanos 14:3). Sua admoestação encontra-se dessa forma em harmonia com a decisão do Concílio de Jerusalém, e sem dúvida lança luz, sobre pelo menos uma razão por que o concílio tomou posição sobre este assunto...Provavelmente por temor de ofender neste assunto, alguns cristãos abstêm-se inteiramente de alimentos cárneos, o que significa que o seu alimento era restrito a “ervas”, isto é, vegetais (Romanos 14:2).

“Paulo não está falando de alimentos higienicamente prejudiciais. Não está sugerindo que os cristãos de fé vigorosa possam comer qualquer coisa, desconsiderando os seus efeitos sobre o bem estar físico. Paulo já tem deixado claro no capítulo 12:1 que o verdadeiro crente compreenderá que o seu corpo dever ser preservado santo e aceitável a Deus como sacrifico vivo. O Homem de fé robusta considerará como ato de adoração espiritual, manter boa saúde (Romanos 12:1 e I Coríntios 10:31).

“Um fato adicional lança luz sobre os problemas que Paulo está discutindo. Apenas muito palidamente, a princípio, os judeus cristãos compreenderam que a lei cerimonial encontra os seus cumprimentos em Cristo... e que esta daí por diante não mais era válida. Em verdade, os primeiros Cristãos não foram chamados abruptamente a cessar o serviço das festas anuais judaicas ou repudiar os ritos cerimoniais de uma vez por todas. Sob a lei cerimonial os judeus deviam guardar 7 sábados anuais. Paulo mesmo observou várias festas após a sua conversão (Atos 18:21, etc). Embora pensasse que a circuncisão nada era (I Coríntios 7:19), tinha consigo o circuncidado Timóteo (Atos 16:3) e concordara em cumprir um voto segundo as estipulações do código antigo (Atos 21:20-27). Sob tais circunstâncias parecia melhor permitir que os vários elementos da lei cerimonial da lei judaica gradualmente viessem a desaparecer a medida que a mente e a consciência se iam iluminando. Dessa maneira, era inevitável que entre os judeus cristãos surgisse a questão quanto á conveniência de observar certos “dias” – dias santos judaicos, em conexão com as suas festas anuais (Ver Levíticos 23:1-44).

“Em vista destes fatos, torna-se evidente que Paulo, em Romanos 14, não está: (1) depreciando a dieta de “ervas” (vegetais), ou (2) indo de encontro á antiga distinção bíblica entre – alimentos puros e impuros, ou (3) abolindo o sétimo dia, o sábado da lei moral... O que pretenda afirmar que assim foi, deve estar vendo no argumento de Paulo algo o que aí não existe.

“Que Paulo não ensina ou mesmo de a entender a abolição do sábado do sétimo dia tem sido reconhecido por comentaristas tais como: Janieson, Fausset e Brown em seus comentários sobre o cap. 14:5 e 6: "Dessa passagem sobre a observância de dias, Alford infelizmente infere que tal linguagem não podia ter sido usada se a sábado-lei não estivesse forçando o evangelho de qualquer maneira. Certamente não podia, se o sábado fosse meramente um dos dias de festas judaicas; porém, tal não acontecerá pois não foi outorgado meramente porque fora observado sob, a economia judaica. E certamente se o sábado era mais antigo que o judaísmo; se mesmo sobre o judaísmo foi guardado como relíquia entre a terna santidade do decálogo, proferido, com nenhumas outras porções do judaísmo o foram, em meio, aos terrores do Sinai; e se o próprio Legislador disse quando na terra “O Filho do homem ´se Senhor até do sábado” (Marcos 2:28). Será difícil mostrar que o apóstolo significasse que o mesmo devia ser colocado pelos seus leitores entre aqueles desaparecidos dias de festa judaicas, e que só um “débil” poderia imaginar estarem ainda em vigor, uma debilidade que os que tinham mais luz deviam, apenas por amor, suportar.

“Em Romanos 14: a 15:14 Paulo insta com os cristãos mais fortes para dar simpática consideração aos problemas de seus irmãos mais fracos. Como nos capítulos 12 e 13, ele mostra que a fonte da unidade e paz na igreja é o amor cristão genuíno. Este mesmo amor e respeito mútuo assegurará harmonia contínua entre o corpo de crentes, a despeito das opiniões e escrúpulos diferentes em assuntos de religião”[9].

“Paulo não diz que todos os dias são iguais. A palavra iguais está em itálico (Versão Almeida Revista e Corrigida), porque não se encontra no original grego e foi acrescentada por Almeida.

O dia aí mencionado não é o dia de repouso semanal, porque o mesmo apóstolo, em sua epístola aos Colossenses (2:16), tratando do mesmo assunto (pois o mesmo problema surgira naquela igreja) nos esclarece que são “dias de festa”. E em Gál. 3:10, abordando o mesmo problema, Paulo menciona “dias, e meses, e tempos e anos” (grifo nosso). Quer dizer que eram dias de festa, os feriados anuais e mensais, como:

Páscoa – Pentecostes – Dia da Expiação – Luas Novas – Tabernáculos – Jubileu regulados pela lei cerimonial. Por quê? Porque embora abolidos na cruz, esses dias, os judeus neófitos na fé, recém-convertidos (judaizantes) não se desvencilharam deles de pronto; queriam observa-los e ainda julgavam os cristãos vindos do gentilismo por não os observarem. Diz o comentarista Adão Clark: “A referência aí feita [à palavra dia] se prende a instituições judaicas, e especialmente a seus festivais, tais como a páscoa, pentecostes, festa dos tabernáculos, lua nova, jubileu, etc... Os gentios convertidos... consideravam... que todos esses festivais não obrigam o cristão. Nós os tradutores acrescentamos a palavra iguais, e fazemos  texto dizer o que, estou certo, jamais foi pretendido, isto é, que não há distinção de dias, nem mesmo do sábado.” (Clark’s Commentary, Rom. 14:5)

Também os fundamentalistas Jamieson, Fausset e Brown comentam: “… será difícil mostrar que o apóstolo tenha rebaixado o sábado de maneira a ser classificado por seus leitores entre as transitórias festas judaicas...”.

Em parte algumas dos ensinos de Paulo, o sétimo dia do decálogo é assunto de controvérsia.”[10]

“Não destruas a obra de Deus por causa da comida. Todas as coisas, na verdade, são limpas, mas é mau para o homem o comer com escândalo. É bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa com que teu irmão venha a tropeçar ou se ofender ou se enfraquecer”. (Romanos 14:20-21).

Após as considerações anteriores, podemos ter mais luz para entender este verso. Paulo está dizendo para os Corintos não destruírem a obra de Deus por causa do comer ou não carnes sacrificadas aos ídolos. O ídolo nada é.

Ao dizer que “todas as coisas são limpas”, Paulo está se referindo ás “carnes sacrificadas a ídolos”; não está usando o termo genericamente, pois se o fizesse, teríamos de supor que até cobras, lagartos, cachorro, são limpos para alimentação.

Paulo falou que “é bom não comer carne e nem beber vinho” porque estes eram evidentemente os objetos principais dos escrúpulos religiosos do irmão mais fraco, provavelmente porque eram costumeiramente usados nos sacrifícios aos ídolos pagãos.

Conclusão:

1º Romanos 14 trata em essência do mesmo assunto de I Coríntios 8: Carnes sacrificadas a ídolos. Podemos facilmente perceber isto através da comparação dos dois livros:

2º “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo”. (Romanos 14:17).

3º “Não é a comida que nos recomendará a Deus, pois nada perderemos, se não comermos, e nada ganharemos, se comermos”. (1 Coríntios 8:8).

4º Podemos ver que em Romanos 14 está sendo tratado sobre o mesmo assunto, que diz respeito ás carnes sacrificadas a ídolos. O versos 17 não está dando autorização para usarmos alimentos imundos, pois neste é este o objetivo do livro.

5º Outro fator que leva-nos a concluir que o assunto é o mesmo nos dois livros, é o fato da epístola aos Coríntios ter sido escrita menos de um ano antes da de Romanos. Chega-se á inevitável conclusão de que falam do mesmo assunto.

6º Lembremos de que o próprio Paulo disse: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”. (I Coríntios 10:31).

7º Os versos 4 e 5 referem-se aos dias de festividades judaicos, que eram chamados de ‘sábados cerimoniais’, sábados estes que eram diferentes do sábado do Senhor, abençoado e santificado na criação do mundo. (Leia Levíticos 23:38; Levíticos 23:3 e 24-25).

“Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei”. (Salmos 119:18).

Deus lhe guarde,
Leandro Soares de Quadros.
Setor de Respostas Teológicas.

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